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Cana irrigada: Conheça mais um MITO

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Mitos sobre irrigação na cana-de-açúcar

O assunto cana irrigada tem muitos mitos. E, em tempos de fake news, a RPAnews, junto a Vinicius Bof Bufon, pesquisador da Embrapa Cerrados, traz uma série especial sobre os Mitos e Fatos a respeito da irrigação em cana-de-açúcar como forma de contribuir para o esclarecimento de alguns aspectos importantes.

Cana irrigada tem maturação prejudicada e menor ATR: MITO

Cana irrigada

(Foto/Crédito:CTC)

Este é mais um mito. Cada variedade tem seu potencial genético de acúmulo de açúcar e diferentes padrões de curva de maturação.

A fisiologia da maturação é um sistema belíssimo e complexo. Além do potencial genético de cada variedade, também é muito influenciada por diversos outros processos. Praticamente tudo que sinaliza para a planta que seu ciclo de vida pode estar chegando ao fim ou que seu futuro está em perigo engatilha processos fisiológicos que aceleram a maturação e o armazenamento de açúcar nos colmos. Declínio de temperatura e déficit hídrico são dois dos fatores que aceleram a curva de maturação.

Com temperatura favorável ao seu crescimento, se não houver restrição hídrica, a cultura continuará dedicando a maior parte de sua energia para produzir mais folhas e crescer. Isso ocorre tanto para cana de sequeiro como cana irrigada. Por essa razão, por exemplo, eventos de chuva fazem os valores de ATR caírem em canavial que está prestes a ser colhido. ATR é o índice que indica o teor de açúcares redutores, aqueles que serão extraídos na moagem da planta.

Leia outros Mitos e Verdades:

Mitos sobre irrigação de cana-de-açúcar – parte 1
Mais MITOS e FATOS sobre irrigação em cana-de-açúcar – Parte 2
Irrigação em cana: Veja mais um MITO – Parte 3

Por outro lado, temperatura excessivamente baixa e estresse hídrico por períodos muito prolongados fazem a cultura ultrapassar o ponto de maturação ótima. O estresse hídrico severo interrompe a transpiração e outros processos fisiológicos da cana. Com isso, gradativamente, ela para de produzir carboidratos para sua sobrevivência, para de crescer e de produzir e armazenar açúcar nos colmos.

Com a continuidade desses processos, como a cana ainda está viva e respirando, ela continua consumindo energia. Ora, se ela não está mais produzindo, mas está consumindo, de onde está vindo essa energia? Ela vem justamente do açúcar que estava armazenado nos colmos. Esse armazenamento é a principal estratégia de sobrevivência da planta em caso de estresse severo. Ao invés de a cana produzir e armazenar açúcar, ela passa a usar o que estava armazenado nos colmos para sobreviver. É o que chamamos de isoporização.

Com isso, queremos mostrar que a fisiologia de uma cana irrigada não é diferente de uma cana de sequeiro. Simplesmente suas curvas de maturação são diferentes, da mesma forma como a curva de maturação da cana de sequeiro em um solo que armazena mais água é mais lenta do que a curva num solo arenoso. Ou seja, é necessário aprender o comportamento da curva de maturação de um canavial irrigado e, assim, como se faz em áreas de sequeiro, acompanhar a curva e utilizar estratégias de manejo para otimizar a maturação e o momento de colheita.

Além das conhecidas práticas de uso de maturadores, a Embrapa Cerrados tem desenvolvido estratégias de manejo da adubação e, principalmente, estratégias de interrupção da irrigação para maximizar a qualidade da cana na colheita. Trata-se da aplicação de um déficit hídrico de intensidade e tempo controlados, chamado de dry-off. No entanto, é necessário saber o resultado que se busca com essa técnica.

Em pouca intensidade, o dry-off pode maximizar o TCH (toneladas de cana por hectare), mas perder no ATR por tonelada. Já se a intensidade for aumentada demasiadamente, o resultado pode ser maior ATR por tonelada de colmo, mas com perda de TCH. Por isso, a estratégia deve focar na maximização do ATR por hectare.

Vale ressaltar que a aplicação precisa da estratégia de dry-off também depende do clima. Eventos não esperados de chuva prejudicam a precisão da estratégia, sobretudo quando se pretende aplicá-la para colher o canavial no início ou final de safra. No meio da safra, quando há menor probabilidade de chuva nos dois meses que antecedem a colheita, há maior chance de executar com perfeição o dry-off.

Os resultados de nossa pesquisa e testes em áreas comerciais têm comprovado que um canavial bem nutrido e com manejo de déficit hídrico controlado consegue não só repetir os níveis de ATR de um canavial de sequeiro, como pode atingir níveis mais elevados, extraindo mais do potencial genético da cana. Com isso, além dos ganhos em TCH, um canavial irrigado e com manejo adequado de dry-off também pode entregar ganhos expressivos de ATR por tonelada de colmo e, consequentemente, de ATR por hectare.

Aproveitamos para apontar outro mito, o de que o período de dry-off de uma cana irrigada deve ser de 30 dias. Na verdade, a intensidade ótima do estresse hídrico dependerá da capacidade de armazenamento de água do solo e do clima nos dias que antecedem a colheita.

No Cerrado, esse período pode oscilar de 15 até 80 dias. Para uma cana colhida no início da safra, mais próxima ao final do período chuvoso, e que passa os meses finais de maturação sob temperaturas mais amenas , será necessário um maior número de dias de dry-off para maximizar o ATR por hectare do que um canavial colhido, por exemplo, no final de agosto, com clima mais severo e reservas de água no solo já muito reduzidas.

Mais informações: cerrados.imprensa@embrapa.br; vinicius.bufon@embrapa.br

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