O canavial de três dígitos da empresa é resultado de uma série de manejos realizados juntamente com a escolha correta de variedades de cana

Por Natália Cherubin
Ter um canavial de três dígitos ainda é sonho para alguns, mas realidade para outros. A Agrícola Trevizoli, fornecedora de cana-de-açúcar da Usina Bomfim, da Raízen, localizada em Taquaritinga, SP, tem esse canavial dos sonhos. Qual o segredo? Fazer o manejo certo, na hora certa e escolhendo variedades adequadas para cada ambiente de produção.
Na semana passada, uma foto de um canavial deu o que falar nas redes sociais da RPAnews e grupos de WhatsApp voltados para o segmento Cana. Era justamente uma foto do canavial da Agrícola Trevizoli, mais especificamente da área plantada com a variedade IAC01 5503, uma cultivar que vem sendo plantada mais recentemente nos canaviais do Centro-Sul do Brasil.
Com esta cultivar, a Agrícola Trevizoli bateu, em seu primeiro corte, 212 t por ha e tem a expectativa de atingir na safra 2021/22, em seu 2º corte, cerca de 170 t por ha, um número muito bom, de acordo com Renato Trevizoli, responsável técnico da Agrícola Trevizoli, diante das condições climáticas que atingiram o setor em 2020.
Marcos Landell, diretor do Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, diz que o resultado incrível se dá pela boa fundação do canavial da empresa desde o início.
“A Agrícola Trevizoli fez um bom planejamento de preparo de solo, incorporação dos corretivos e elevação da saturação de base (V% para 70) para eliminar qualquer possibilidade de presença de alumínio tóxico em subsuperfícies do solo. A elevação da soma de bases foi para mais de 15 mmol por decímetro cúbico e a elevação do fósforo foi para 12 BPM. O preparo de solo foi simples. Foram duas gradagens pesadas e uma subsolagem a 40 cm”, explica Landell.
Um dos fatores que também colaboraram para o resultado, na visão de Landell, foi o plantio da variedade IAC01 5503 com uso de MPB em Meiosi, técnica feita em 100% das áreas de plantio da empresa, de acordo com Trevizoli.
“Toda área de plantio nossa passa por rotação de cultura. Nesta área, especificamente, fizemos um mix de crotalárias Spectabilis e Ochroleuca. A correção do perfil foi feita. O solo não tinha acidez, o V% pouco acima de 70 e ausência de alumínio. Garantimos no plantio de 180 kg a 200 kg de fósforo por hectare. O potássio também foi parcelado. Colocamos uma quantidade total de 150 kg, sendo 60 kg no momento do plantio e o restante em cobertura”, revela.
Além disso, a Agrícola Trevizoli fez a adubação de cobertura parcelada em duas vezes. Os micronutrientes também foram parcelados projetando uma produtividade próxima de 150 t/ha.
Segundo Trevizoli, foram três parcelas. Um terço no sulco de plantio, um terço com o herbicida e um terço no controle da Broca, quando foi realizada uma aplicação área.
“Fizemos um controle bem efetivo contra a broca com um controle químico e duas aplicações biológicas com Trichogramma galoi. Fizemos ainda uma aplicação aérea de nitrogênio fornecendo 7 kg via folha, acompanhado dos micronutrientes: magnésio, boro, zinco, cobre e molibdênio. O enxofre também foi fornecido, porém diretamente no solo”, conta o fornecedor”, adiciona Trevizoli.
Além de colocar de 180 a 120 kg de fósforo e potássio, neste manejo a empresa também aplicou cerca de 300 kg de óxido de cálcio no fundo do sulco do plantio.
Todo o canavial de segundo corte da Agrícola Trevizoli recebe em torno de 5 toneladas de cama de frango por hectare localizado em cima da linha de cana.
“Damos este aporte de matéria orgânica para que ocorra a mineralização, disponibilizando mais nutrientes para a planta de forma gradativa”, adiciona o produtor.
O monitoramento da broca começa a partir de 70 a 80 dias da rebrota com o uso de armadilhas. Segundo Trevizoli, à medida que chega ao nível de controle, são realizadas as ações de controle biológico ou químico.
“Em 2020 fizemos duas aplicações de biológicos usando Trichogramma Galoi e uma aplicação química. Fizemos controle de cigarrinha e no começo de dezembro fizemos uma aplicação nutricional via folha com uso de uma Uniport. Devolvemos mais 5 kg de nitrogênio, com molibdênio e o último parcelamento dos micronutrientes colocando boro, zinco, manganês, juntamente com os inseticidas para controle de broca e cigarrinha”, detalha.
ATR e produtividade
A IAC 5503 bateu em primeiro corte, na safra 2020/21, 212 de TCH, com um ATR de 131,7 kg de ATR. Trevizoli diz que fez uso de maturador neste canavial 40 dias antes da colheita.
“É um ótimo número, já que a variedade foi colhida no final de maio. A cana deu 27,09 t de açúcar por hectare, um espetáculo se considerarmos que a média do Estado de são Paulo está em 11 t de açúcar por hectare. Em cana planta é normal termos de 16 a 17 t de açúcar por hectare. Aqui estou falando de 27 t de açúcar, 10 toneladas a mais e ainda com uma cana ereta”, destaca o pesquisador do IAC.

O bom ATR se deve ao clima. No ano passado o déficit hídrico na região de Jaboticabal, SP, começou já em abril, o que acabou favorecendo a maturação da cana.
“Ano passado foi excepcional de maturação, o que não deve ocorrer este ano. Podemos dizer que foi o melhor ano da história da cana crua, em decorrência do déficit hídrico e das temperaturas elevadas”, adiciona o pesquisador do IAC.
Para a safra 2021/22, a expectativa é que o TCH atinja em torno de 150 a 170 t/ha no segundo corte, de acordo com Trevizoli. Tudo vai depender do clima dos próximos meses até junho, quando a variedade será colhida.
“Essa variedade IAC01 5503 tem um crescimento muito agressivo. Ela está com 9 meses e com 20 colmos, muito palmito e excelente diâmetro”, revela Trevizoli.
Landell diz que apesar da altura ter sido prejudicada, o canavial está com diâmetro bons para soqueira.
“Acreditamos que fique perto de 6 m, 1 metro de colmo a menos do que no ano anterior. No entanto, se continuar chovendo, pode ser que não tenha atraso e chegue a 170 t/ha.
A variedade IAC01 5503, de acordo com Landell tem como característica boa população de colmos, perto de 80 mil colmos por hectare, é uma cana bem ereta e é nos cortes mais avançados que demonstra a maior vantagem sobre outras variedades.
“Ela tem se mostrado melhor do que a RB 867515 que é a variedade mais plantada do país”, destaca Landell.
Três dígitos
A Agrícola Trevizoli vem experimentando altas patamares de produtividade já há algum tempo. Em 2019, atingiu 196 t/ha em canavial plantado com a variedade IAC95 5094, chegando a 134 kg de ATR sem uso de maturador.
“Esse é outro material extremamente responsivo ao manejo avançado. Foi o mesmo manejo que fizemos com a IAC01 5503. É um material que se der condições de manejo e nutrição, e ainda um clima bom, produz muito também”, avalia Trevizoli.
Na safra 2020/21 Agrícola Trevizoli fechou a média de cinco cortes em 124 t/ha, número muito acima da média dos canaviais do Centro-Sul, que vem tendo uma média de 75 de TCH nos últimos anos.
Segundo Trevizoli, as produtividades tem sido alcançadas por meio de diversos manejos.
“Para se ter altas produtividade é um conjunto de técnicas que tem de estar harmonia e ser realizadas no momento certo. Não é só adubação, nem só controle de broca ou correção do perfil do solo. O bom preparo e a preocupação com a redução da compactação. Não é uma técnica isolada e sim um conjunto de técnicas associadas que vão culminar com a escolha certa da variedade”, afirma Trevizoli.
Ainda de acordo com o produtor, a variedade tem que estar alocada em um ambiente que dê a ela capacidade de resposta.
“Depois disso vem tratamento. Redução de compactação com uso de piloto automático, correção de perfil, controle de broca e outros insetos e nutrição adequada. Além disso, fazemos uso de rotação de culturas, reduzindo focos de inócuos de pragas, diminuindo a fonte de doenças nos canaviais que estão ao redor. Por fim é alocar a variedade certa e aí sim, ela tem potencial de resposta”, adiciona.
O conceito dos três dígitos, de acordo com Landell, é ter uma média de cinco cortes acima de 100 t/ha. E existe uma série de ações que podem levar o setor canavieiro a ter mais produtividade.
“Uma série de inclusões novas precisam ser implementadas ao manejo fitotécnico da cana. Assim como o Trevizoli fez, com micro e macronutrientes, adubação de cobertura – que nem se falava há 20 anos atrás. Tem muita coisa nova sendo feita hoje que está fazendo a diferença. Além disso, o potencial biológico das novas variedades é superior às variedades de 20 anos atrás”, observa Landell.
Um dos aspectos importantes, segundo Landell, é fazer o jogo de manutenção de população de colmos do canavial. Como? Fazendo com que se consiga mitigar o déficit hídrico do canavial para que haja uma resposta, principalmente na brotação e perfilhamento.
“Mantendo a alta população de colmos é possível ter alto TCH. Falta uma gestão mais estratégica sobre a condição oferecida para a cana brotar e por isso que desenvolvemos o terceiro eixo. Como a irrigação com água ainda não é uma realidade para todos, a forma mais barata ainda é usar o conceito do terceiro eixo, antecipando a colheita de canas de primeiro e segundo corte para o primeiro terço da safra, quando ela tem mais umidade do solo”, conclui Landell.