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Edição 200

Como a greve dos caminhoneiros 14 afetou o setor sucroenergético?

Publicado

em

Alisson Henrique

Natália Cherubin

REDUÇÃO DA MOAGEM

“Entre os impactos do desabastecimento de diesel causado pela greve dos caminhoneiros está a redução na moagem de cana-de-açúcar em 10,9 milhões de t na segunda quinzena de maio, no Centro-Sul, representando 24,8% a menos do que o potencial estimado para este período, segundo cálculos da consultoria INTL FCStone. Avaliamos que a produção de açúcar na quinzena pode cair em 502,6 mil t e a de etanol em 526,6 milhões de l. Como a safra de cana ainda está em sua etapa inicial, as usinas podem recuperar estas perdas total ou parcialmente nos próximos meses. Por outro lado, se o atraso na moagem for maior do que o esperado ou o clima se mostre adverso, é possível que a defasagem na moagem persista e leve ao fim tardio da colheita em parte das unidades produtoras, o que poderia levar a perdas no Açúcar Total Recuperável médio e, consequentemente, na produção total de açúcar e etanol da temporada. A paralisação da moagem é apenas um dos impactos para o setor. A greve também deve causar queda nas vendas de etanol e diminuição do diferencial tributário com a gasolina após o fim da cobrança da Cide. Além disso, pode ocorrer atraso nos embarques de açúcar nos portos e a incerteza quanto à política de preços para os combustíveis no país.”

João Paulo Botelho, anaista de Mercado da INTL FCStone

IMPACTO FOI GRAVE

“O impacto no setor foi grave. Isso porque a região Centro-Sul estava em pleno início de safra. As usinas moeram de 10% a 15% da cana esperada para a safra. Até o final de maio metade do setor ainda estava parado por falta de óleo diesel para abastecer as frentes de colheita de cana. Escoar o etanol também foi um problema. Os tanques das usinas ficaram cheios e praticamente não havia mais capacidade de estocagem. O impacto na moagem de cana no curto prazo é grande, mas ainda é cedo para falar em redução da moagem para a safra como um todo. A estimativa atual para a temporada é que sejam processadas 570 milhões de t, com viés de baixa. O caixa das usinas fica comprometido pela forte redução das exportações e pela completa paralisação das vendas de etanol. Não se pode descartar o risco de que as medidas anunciadas pelo governo para o diesel – controle de preços e redução de tributos – sejam estendidos também para a gasolina nas refinarias. Isso teria impacto direto no mercado de etanol, que nos últimos meses se manteve competitivo devido à política de preços livres para a gasolina.”

Fabio Meneghin, sócio-analista da Agroconsult

PREÇOS DO ETANOL

“No curto prazo o etanol deve subir um pouco, não creio em grandes efeitos para o açúcar no médio prazo. O que afetará é a escassez de cana.”

Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP

PREÇOS RELATIVOS

“No médio prazo acredito que esta greve poderá afetar de forma aleatória os preços relativos na nossa economia. Afinal, tudo leva a crer que enfrentaremos um forte estresse econômico pelo menos até a posse do novo ou nova presidente em 2019. A inflação deverá terminar seu ciclo de redução, ao passo que o dólar poderá fechar o ano num patamar alto, próximo de R$ 3,50. O PIB poderá ter um crescimento baixo, de 2,0% em 2018, quando esperávamos 2,5% antes da greve. A taxa Selic, que caminhava para 6,25% no final do ano, deverá ficar estacionada no atual patamar de 6,50%. Os segmentos mais estruturados e líquidos da economia poderão surfar numa boa recuperação de seus preços, mas os segmentos mais frágeis, como o sucroenergético, certamente perderão esta oportunidade. Logo, prevejo preços de açúcar e etanol retornando aos patamares pré-greve e até menores logo após as bolhas iniciais estourarem. Mas também prevejo preços bem melhores nesta entressafra, principalmente de etanol, pois poucas usinas e grupos sucroenergéticos conseguirão carregar estoques significativos após o final desta safra, que será curta.”

Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria

PREJUÍZO DE R$ 1,2 BILHÃO

“Perdemos basicamente três dias e meio de moagem, que pode ser que consigamos retomar, mas se chover já não conseguimos. Deixamos de processar de 10 a 13 milhões de t de cana. Tivemos um prejuízo de venda e certo prejuízo de consumo também. Então, tivemos prejuízo comercial e prejuízo do atraso da safra, porque aquela cana que deixou de ser colhida agora deixa de ser formada e impacta no canavial do próximo ano. Alguma área que tenhamos deixado de irrigar também impactará na produtividade do ano que vem. Existe uma série de fatores tangíveis e não tangíveis que podemos quantificar. Tivemos uma queda nas vendas que não conseguimos recuperar e que dificilmente recuperaremos antes de agosto. É difícil quantificar cada uma das vertentes, mas o prejuízo não é inferior a R$ 1,2 bilhão. Vamos poder fazer um raio-x melhor mais para o final da safra para ver os reais impactos da greve.”

André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético

AFETOU A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

“A greve dos caminhoneiros afetou severamente os resultados da segunda quinzena de maio da safra de cana na região Centro-Sul do País. A quantidade processada da matéria-prima atingiu 32,38 milhões de t, o equivalente a perda média de 4,5 dias de moagem. Deixou-se de processar cerca de 13 milhões de t nessa quinzena devido à suspensão das operações pela falta de diesel e outros insumos à produção. Considerando os preços vigentes na comercialização do açúcar e etanol, a redução da receita do setor sucroenergético devido à greve totalizou cerca de R$ 1,2 bilhão. Ainda, o recuo no processamento de cana ocorreu mesmo com o clima favorável à colheita e à qualidade da matéria-prima.”

Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica

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