Alisson Henrique
Nome: Evandro Gussi
Idade: 39 anos
Cargo: Presidente da Unica
Formação: Formado em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutor em Direito do Estado
Filosofia de vida: “O maior sentido da vida é servir. Servir a Deus, à Pátria e à Família. Nessa ordem!”
Confira a edição 209 da revista RPAnews
O setor sucroenergético tem passado por grandes mudanças nos últimos 20 anos. Após alçar voos altos, conquistando ganhos exponenciais de produtividade, com inauguração de novas unidades, incremento de produção e faturamento no início dos anos 2000, o mundo da cana entrou em uma fase de grandes turbulências, decorrentes, principalmente, da grande crise mundial de 2008, a qual tem seus efeitos sentidos até os dias de hoje, mas que tem data para terminar.
Isso porque com a criação do programa RenovaBio, implementado em 2017, a luz que o setor sucroenergético precisava enxergar no fim do horizonte parece dar os seus primeiros sinais já a partir de 2020. E, para fechar 2019 com chave de ouro, nada mais natural do que a RPAnews escolher como executivo do mês um dos grandes incentivadores deste programa tão importante para o nosso setor, Evandro Herrera Bertone Gussi, um dos pais do RenovaBio e atual presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar).
Apesar da sua importância como representante do segmento, Gussi tem uma trajetória bastante recente dentro do setor canavieiro. Ele é formado em Direito, é mestre em Direito Constitucional e doutor em Direito do Estado pela USP (Universidade de São Paulo). “Eu sou apaixonado pelo Direito desde quando me lembro ter conhecido os livros do meu pai, por volta dos três anos de idade. Nunca tive dúvida do que eu queria estudar”, revela.
Sua trajetória acadêmica começou em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Em seguida, ele ingressou no mestrado, no Rio Grande do Sul, onde conheceu uma de suas referências na vida acadêmica, o professor Cezar Saldanha.
“Ao fim do mestrado, antes do doutorado na USP, fui professor e coordenador adjunto da Faculdade de Direito da Toledo, onde me formei. Atuei na advocacia corporativa. Até que, já doutor em Direito do Estado, fui convidado a integrar um grupo político e fui eleito Deputado Federal em 2014”, conta.
Foi já como Deputado Federal que Gussi foi apresentado ao projeto do RenovaBio. A princípio, ele diz que teve que estudar bastante para se aprofundar no tema e criar familiaridade. As equipes do Ministério de Minas e Energia e da Unica o receberam diversas vezes para fazer um processo de imersão. “Foi aí que comecei a entender e admirar o setor sucroenergético.”
RENOVABIO: 2020 será o marco
A Política Nacional dos Biocombustíveis surgiu em decorrência da ratificação do Acordo de Paris pelo Governo Brasileiro em 2016, quando o País se comprometeu a aumentar a participação de biocombustíveis na sua matriz energética ao estabelecer o compromisso de reduzir em 37% as emissões de carbono até 2025.
“O RenovaBio é uma resposta prática e efetiva para os anseios da população, de construção de um caminho de descarbonização da economia e da melhoria da qualidade do ar nas cidades brasileiras. É uma política que olha para o nosso futuro”, afirma.
Gussi foi responsável por levar o projeto à Câmara dos Deputados. “A maior lição que fica é em relação à cooperação entre os diferentes agentes em prol de um projeto em comum. Afinal, o RenovaBio é uma obra construída a muitas mãos, tanto do setor público como da iniciativa privada. Tenho a grande satisfação de ter contribuído como seu autor, na Câmara dos Deputados, pois se trata de uma política moderna, que vai levar o Brasil a outro patamar em relação à segurança energética”, conta.
A próxima temporada tem tudo para ser um marco na história do setor. Isso por conta da entrada em vigor do RenovaBio, o que pavimentará o caminho para um horizonte ainda maior. De acordo com Gussi, em 10 anos, estima-se que a produção deva sair dos atuais 33 bilhões de l de etanol para algo próximo de 50 bilhões de l. Esse acréscimo possibilitará uma redução de emissões de GEE na ordem de 11% até 2029, levando em conta somente o mercado interno.
“Temos mais de 60 países com mandatos de mistura de biocombustíveis aos combustíveis fósseis. Para citar apenas um exemplo, se a China adotar a mistura de 10% de etanol na gasolina em 2020, conforme planeja, isso significaria uma demanda de 15 bilhões de l de biocombustíveis”, salienta.
Para ele, o programa começará a dar retorno aos produtores assim que os Créditos de Descarbonização, CBios, começarem a ser comercializados. “Temos as metas de volumes de CBios já definidas para o próximo ano e o etanol comercializado a partir de ٢٤ de dezembro deste ano pelas usinas credenciadas já pode ser contabilizado para a emissão dos ativos ambientais. Ou seja, os produtores que estão avançando no processo de certificação junto à ANP poderão fazer parte do programa já em janeiro.”
FOCO DA UNICA
Presidente da Unica desde fevereiro de 2019, ele diz que se sente honrado por ser líder da maior entidade do segmento, que é, por conta das práticas e produtos, um exemplo de modernidade e de sustentabilidade, que deve ser reconhecido como um orgulho nacional.
Gussi ainda afirma que se sente seguro como líder da Unica porque sabe que representa um setor que não precisa de maquiagem. “Temos um setor que é símbolo de modernidade e de sustentabilidade. Isso é importante, porque o mais autêntico trabalho de relações institucionais depende de uma base técnica robusta capaz de oferecer informações precisas aos tomadores de decisão e aos stakeholders em geral. É isso que, no fundo, fazemos: mostramos quem somos, o que fazemos e, especialmente, como fazemos a produção de alimento e de energia mais sustentável do mundo”.
As metas da Unica para os próximos anos são não apenas manter a boa reputação do setor, como também de reforçar sua imagem como um ícone nacional. “O etanol de cana é um biocombustível avançado, que reduz de 70% a 90% as emissões de CO2. Isso será ainda mais conhecido e reconhecido pela nossa população. Nos próximos anos, vamos buscar as histórias das pessoas que fazem o setor sucroenergético ser o que é e contar essas narrativas nos nossos canais digitais.”
Hoje, a Unica prioriza três frentes de trabalho. A primeira é a implementação do RenovaBio, que trará mais previsibilidade para o setor, atraindo investimentos e que deverá ser realidade já em 2020. A outra frente é o apoio pela a ampliação da eficiência. Visto que o setor produtivo tem feito um esforço enorme para introduzir novas tecnologias que aumentam a eficiência da cadeia como um todo. E a última frente é garantir os avanços das negociações e pleitos no comércio internacional de açúcar, que devem garantir a competitividade do produto brasileiro e a ampliação do mercado internacional de biocombustíveis.
ROTINA AGITADA
Gussi, aos 39 anos, revela não ter uma rotina. Sua vida é bastante dinâmica. Ele divide seu tempo entre São Paulo, onde fica a sede da Unica e acontecem as reuniões de Conselho e Comitês, e entre Brasília, onde fora construído recentemente um escritório para relações e o conhecimento daqueles que tomam as principais decisões para o setor e para o Brasil.
“O nosso escritório na capital federal funciona como um centro de formação e de informação sobre o setor. É lá que recebemos autoridades nacionais, embaixadores e representantes de embaixadas do mundo, em especial dos países que produzem ou consomem etanol e açúcar. O intuito é a construção cada vez mais eficaz desse processo de globalização do etanol e para a consolidação e manutenção do mercado competitivo do açúcar.”
Quando tem tempo sobrando – o que acontece raramente, ele aproveita para ficar com a sua família, formada pela esposa e filhos: Ana Laura, de 13 anos, Sophia, de 6, sua enteada Manu, 14 anos, Tomás, de 1 ano, e Joaquim, que chega oficialmente em janeiro.
“Quando estou em casa aproveito para ficar com todos que amo. Com a minha mulher, Ticiane Oliveira Gussi, por quem sou apaixonado desde os 6 anos de idade e com meus filhos. Aproveito também para ler, cozinhar e assistir filmes ou séries.”
Outra paixão é viajar, o que não tem feito muito, pelo menos a lazer. “Quando tenho tempo, gosto de conhecer lugares novos e não tenho problema em voltar aos que já conheci. E quando eu digo conhecer, é conhecer de verdade, é viver como os dali. É usar transporte público, é comer a comida local. Adoro a tecnologia e o domínio dos Estados Unidos e sou encantado pela história e pelo charme da Europa. Estou descobrindo agora as peculiaridades da Ásia. Ou seja, literalmente, todos ‘os cantos do mundo’ me oferecem oportunidades incríveis.”
Perguntamos a Gussi qual é a sua filosofia e quais foram os seus maiores aprendizados na vida até o momento. Ele respondeu que o maior sentido da vida é servir. “Servir a Deus, à Pátria e à Família. Sempre nessa ordem. Durante todos esses anos, acumulei uma série de experiências que me engrandeceram como ser humano. Sendo assim, poderia citar as situações em que recebi os meus maiores aprendizados: na experiência de uma vida acadêmica, na arte da convivência política e na paternidade. De todos eles, fica uma lição fundamental: o mesmo ser humano capaz da rocket science é também extremamente limitado. Isso nos leva a uma máxima: com o mesmo rigor que julgarmos, seremos julgados, o que vale para a vida profissional, para a vida pessoal e para a vida espiritual.”
Mas.