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Demissão de presidente da Petrobrás pode ser duro golpe para setor

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cana, projeto

*Por Arnaldo Luiz Correa

O mercado de açúcar em NY desafia nossa inteligência a todo momento e quando não encontramos razões suficientes para justificar movimentações bruscas de preço, é mais fácil ajustar a narrativa dos fatos às cotações que brilham na tela.

O vencimento março/21 chegou muito próximo dos 18 centavos de dólar por libra-peso, nível que nem o mais otimista trader poderia imaginar ver negociado. E as justificativas são diversas: falta de açúcar no planeta, seca no Centro-Sul, atraso da safra, escassez na disponibilidade de containers, entre outras.

Tudo isso, no exato momento em que uma trading de grande reputação coloca um superavit mundial de açúcar entre 6.8 e 7.0 milhões de toneladas combinado nas safras 20/21 e 21/22.

Pontualmente, o encolhimento na disponibilidade de açúcar branco no mundo fez Londres ultrapassar os 480 dólares por tonelada e revigora a demanda por açúcar bruto empurrando as cotações de NY para os níveis que estão.

O vencimento março/21 encerrou a semana a 17.89 centavos de dólar por libra-peso, após beliscar os 17.96, o valor mais alto desde março de 2017.

Então é isso, a gente pega todos os fatores fundamentalistas e técnicos e validamos imediatamente a alta do mercado e deixamos em aberto a possibilidade de ele subir mais e mais. Principalmente agora que estamos num novo ciclo virtuoso das commodities, segundo alguns estudiosos.

Só para lembrar que o último ciclo das commodities foi no início deste século quando a China crescia dois dígitos por ano durante quase uma década. Ocorre que as commodities que se beneficiaram desse ciclo virtuoso foram as energéticas (petróleo bateu 138 dólares por barril), as metálicas e os grãos. As soft commodities pouco variaram nesse período de abundância.

No dia 30 de outubro de 2020 fizemos o seguinte comentário acerca do jogo que estava sendo formado há mais de 100 dias: “a inversão do mercado favorece a rolagem da posição comprada de março para maio uma vez que o fundo, ao faze-la, estará vendendo o março mais caro do que a nova compra no maio, gerando um lucro realizado no seu portfólio.

Colabora ainda mais com a estratégia dos fundos, os rumores de que uma trading estaria também comprando agressivamente o spread março/maio para beneficiar sua posição de açúcar no físico numa eventual entrega no próximo vencimento.

Hipoteticamente, a trading poderia ter iniciado a compra do spread março/maio a 50-70 pontos e quando chegou a 80-100 pontos, vendeu o dobro. Dessa forma, o resultado líquido da estratégia equivale a vender o spread com 120 pontos”.

A estratégia acima deve ter proporcionado um imenso lucro a quem a desenvolveu e – na nossa visão – o comportamento do spread março/maio, bem como a subida dos preços foi motivada principalmente pela briga dos principais players do spread (o mercado sabe bem quem são).

Investidores estrangeiros devem mesmo abandonar o País enquanto esse desequilibrado estiver no poder. É desanimador.

Depois da entrega de março pode ser que tenhamos uma acomodação nos preços do açúcar em NY.

Quando estava escrevendo esse relatório surgiu a notícia de que Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobrás. Esse é um cisne negro que pode mudar a trajetória de preços do açúcar no mercado internacional e pode ser um duro golpe para o setor sucroalcooleiro.

Nunca existiu na história republicana recente do Brasil um presidente mais estelionatário do que Jair Bolsonaro. Nada do que prometeu na campanha presidencial foi entregue. Não se coçou para apresentar projetos para as reformas política, administrativa e fiscal.

Travestiu-se de um liberal e prometeu “menos Brasília e mais Brasil”, com mínima interferência do Estado. Acenou com privatizações e cortes de despesas. Usou a bandeira da tolerância zero com crime e do apoio incondicional à Lava Jato. Usou a imagem de Sérgio Moro para se promover e, como sempre ocorre com quem lhe faz sombra, fritou o ministro.

Sua canalhice agora é coroada com a demissão do presidente da Petrobrás, apenas porque a empresa – que existe para dar lucro – segue os preços internacionais do petróleo repassando-os para o consumidor.

Seu despreparo é tão grande que ignora que na formação do preço ao consumidor 53% refere-se ao preço do petróleo no mercado internacional convertido em reais e os outros 47% são taxas/impostos/tributos e margem de comercialização de postos e distribuidoras.

Tudo indica que o setor sucroalcooleiro vai acabar pagando indiretamente o preço de mais uma de suas inúmeras patifarias. Certamente a estatal do petróleo vai abandonar a política de transparência na formação de preços e todo o brilhante trabalho iniciado por Pedro Parente, cujo comando fez a empresa voltar a dar lucro depois de 4 anos seguidos de prejuízo, vai por água abaixo.

Investidores estrangeiros devem mesmo abandonar o País enquanto esse desequilibrado estiver no poder. É desanimador.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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