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[Opinião] Açúcar: entre o possível e o provável

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Desde o ano 2000, observa-se uma queda significativa no volume de contratos futuros de açúcar negociados na bolsa de Nova York durante o mês de julho. Trata-se de um reflexo típico do período de férias de verão no hemisfério norte, que reduz a atividade dos agentes de mercado. Em 2023, por exemplo, o volume negociado em julho foi 61% inferior ao de junho. Na média dos últimos 25 anos, a retração no mês chega a 42%.

Essa contração de liquidez amplifica os efeitos de qualquer movimento mais expressivo no mercado e favorece – e muito – a atuação dos fundos especulativos. Em um ambiente mais raso, as ordens de venda pressionam com mais intensidade os preços, provocando reações desproporcionais.

Nesta semana, o desempenho dos preços em Nova York foi claramente negativo. O contrato com vencimento em outubro/25 encerrou a sexta-feira cotado a 16,29 centavos de dólar por libra-peso, acumulando uma queda semanal de 50 pontos, o equivalente a 11 dólares por tonelada. Os demais vencimentos, de março/26 a março/28, registraram perdas entre 8 e 48 pontos (2 a 11 dólares por tonelada). Os vencimentos mais curtos recuaram mais do que os contratos de prazos mais longos, refletindo maior sensibilidade no curto prazo.

O mais curioso é que essa queda nos preços ocorreu mesmo na ausência de mudanças relevantes no mercado de energia e apesar da valorização do real frente ao dólar — dois fatores que, em tese, poderiam ter oferecido algum suporte às cotações do açúcar.

A explicação mais plausível recai sobre a atuação dos fundos especulativos, que seguem pressionando o mercado com ordens agressivas de venda. De acordo com o relatório Commitment of Traders (COT), divulgado nesta sexta-feira pela CFTC (Commodity Futures Trading Commission), os fundos aumentaram sua posição líquida vendida em 6.223 lotes no período entre 15 e 22 de julho. Com isso, a posição vendida totalizou 128.125 lotes.

Considerando que o mercado continuou caindo após a última terça-feira — data de corte do relatório —, não seria surpresa se essa posição já tiver ultrapassado os 135 mil lotes, o que representaria o maior nível desde o início do ano. Esse movimento reforça o papel dos fundos na atual dinâmica de pressão sobre os preços, especialmente em um ambiente de liquidez reduzida, indefinições no cenário macro e leituras contraditórias do mix de açúcar.

É nesse cenário que ressurge uma discussão clássica e sempre útil ao bom senso: o que é possível nem sempre é provável. A próxima divulgação da UNICA poderá ser decisiva para ajustar o tom do mercado. Afinal, embora ainda seja possível imaginar uma safra de 40 milhões de toneladas de açúcar, seria improvável — para não dizer ilusório — ignorar a quase impossibilidade matemática de se alcançar esse número com a atual área efetivamente disponível para corte.

O mesmo raciocínio vale para os que seguem sustentando, estoicamente, projeções de 600 milhões de toneladas de cana. É possível, claro. Assim como é possível que chova em agosto no sertão nordestino por dez dias seguidos. Mas, diante dos dados concretos de campo, torna-se cada vez menos provável que esse otimismo resista a um simples exercício de aritmética. Especialmente após a leitura do relatório técnico de um profissional que realmente pisa na lavoura — logo abaixo.

Em postagem nesta sexta-feira no LinkedIn, o especialista José Cristóvão Momesso alertou para um problema crítico que afeta a safra de cana-de-açúcar de 2025: o aumento expressivo de impurezas vegetais na matéria-prima — incluindo palhas, ponteiros, canas doentes e colmos ocos — que vêm comprometendo a eficiência industrial e provocando prejuízos consideráveis. Segundo Cristóvão, o impacto econômico pode alcançar até R$ 2.000 por hectare em cana ou R$ 3.000 por hectare em açúcar. Em uma simulação com queda de 15% no TCH, as perdas diretas na região Centro-Sul podem chegar a R$ 13,5 bilhões (ou US$ 2,45 bilhões), valor que ele classifica como conservador. Quando se somam a redução do ATR, o aumento dos custos industriais e as penalizações contratuais, o prejuízo total pode ultrapassar R$ 15 bilhões (US$ 2,7 bilhões).

Entre os principais fatores identificados estão: (a) solo compactado e falta de renovação de áreas; (b) manejo inadequado das soqueiras; (c) sintomas de “murcha fisiológica”, como colmos ocos, folhas secas e baixo perfilhamento; (d) presença de pragas como Sphenophorus e falhas no controle da broca e de nematoides; (e) doenças como estria vermelha, cigarrinha-das-raízes e outras infecções fúngicas. Diante desse cenário, Cristóvão recomenda uma revisão urgente dos protocolos e práticas agronômicas, como única forma de evitar perdas ainda maiores. Podemos ter surpresas? Provável ou possível?

Nosso analista Marcelo Moreira entende que o vencimento outubro/25, após negociar na máxima da semana a 17.02 centavos de dólar por libra-peso e ultrapassar momentaneamente a média móvel dos 50 dias (que encerrou a 16.78 centavos de dólar por libra-peso), finalizou a semana cotado a 16.29 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão localizadas em 16.49, 16.78, 17.58 e 17.80 centavos de dólar por libra-peso. Já os suportes se encontram em 16.03 e 15.58 centavos de dólar por libra-peso.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

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