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Edição 176

Os equívocos nas relações de trabalho

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Ainda se gasta muita energia com posturas que não deveriam ter portas abertas e acolhimento nas organizações

* Beatriz Resende

O mundo organizacional tem evoluído em muitos pontos, mas parece estar regredindo em questões elementares. Regredindo ou não evoluindo. Estou falando das relações de trabalho, aquelas que fechamos num contrato formal e depois tratamos com a informalidade que achamos ter direito de impingir a elas.

Pessoas têm se relacionado no trabalho de todas as formas, menos como deveria ser a única: a profissional.

Empresas são feitas para abrigar pessoas que se prepararam por muitos anos para ter um espaço que lhes traga a possibilidade de exercer a profissão escolhida ou desenvolvida, de ter reconhecimento, de pertencer a um grupo, de contribuir com uma causa e de conquistar resultados, traçados muitas vezes desde a infância. E aí, as pessoas investem tanto tempo, energia e dinheiro para chegar lá e depois entrar em armadilhas que logo as tiram desse patamar de maturidade, de investimento em si, de possibilidade de evolução.

As coisas acontecem assim: entramos na empresa, a maior parte das vezes com a melhor das intenções, e logo começamos a procurar outras coisas para nos preencher ali dentro. Pena que nem sempre é o trabalho ou a dedicação ao fortalecimento da nossa carreira e imagem.

Os maiores problemas nas empresas, os relacionados a parcerias e comunicação, os entraves de relacionamento, as barreiras do diálogo e da transparência, os desencontros de expectativas, entre outros, sempre começam com uma distorção simples, mas que acaba conduzindo as coisas a rumos, muitas vezes sem volta.

As pessoas erram e perdem seu principal propósito por pouco; elas saem do seu objetivo e se dispersam por bobagem. O que vejo são pessoas que julgam sem entender; que fazem sem perceber; que repetem ou se aliançam a causas sem propósito por não terem um; que se dedicam a olhar o mundo à sua volta com um prazer mórbido, e que não se colocam no contexto ou não se permitem olhar o outro da forma que um dia quis ser olhado. Algumas pessoas olham, traduzem aquilo que precisam ver, desdenham, reclamam, fazem pirraça, machucam e torcem para que as coisas não deem certo e para que os companheiros não se deem bem.

* Beatriz Resende é consultora Organizacional, palestrante e conselheira de carreiras da Coerhência- Integrando Negócios & Pessoas

Escrevo isso pensando que impacto vou causar nas pessoas que lerão essas palavras: “do que ela está falando”? Estou dizendo que vejo mais profissionais despreparados para a vida adulta no trabalho do que o contrário. Outro dia escrevi um artigo sobre metacompetências e o quanto o mercado já está adiante em termos de exigência nas entregas profissionais. Pois é: dizem que já não basta ser competente. Que isso é obrigação. Empresas querem pessoas metacompetentes, aquelas que surpreendem e promovem as mudanças. Minha visão é: temos que ser isso, e ainda não evoluímos nada nas relações de trabalho.

Como podemos valorizar e admirar integralmente um profissional que exibe uma bagagem e resultados aplaudidos de um lado, se estes provocam pessoas e destroem as relações com posturas infantis, falta de dedicação e empenho às causas, a todas e não somente aquelas que dão status imediato, ou fogem da responsabilidade de contribuir e dar sua cota de exemplo na construção de uma gestão madura e agregadora?

Profissionais: empresas são para trabalhar e para o exercício diário da boa convivência e compartilhamento para consecução dos objetivos comuns. Neste lugar que eu chamo de sagrado, pois é ali que colocamos nossas expectativas e recebemos nossas recompensas, temos que ser uma coisa só. É simples! Temos que ser profissionais. Ali não há espaço para você mostrar o seu pior. É um espaço para aprender, ser e perpetuar o seu melhor, pois ali deixaremos marcas, discípulos, exemplos e admiradores. Esse é nosso maior legado. Não podemos liderar se não somos pessoas confiáveis e positivas; não podemos nos relacionar se estimulamos briguinhas e pequenas desonestidades no dia a dia; não podemos construir se pensamos na desconstrução o tempo todo; não podemos crescer, se ainda estamos gostamos de nos fantasiar de vez em quando de Peter Pan ou Lobo Mau; não podemos transcender e ser metacompetentes, se ainda o que nos alimenta e nos conforta são os velhos paradigmas, os velhos problemas e o espelho retrovisor.

Está na hora de atuar nos problemas recorrentes e nunca enfrentados.

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