Edição 184
Redução na área de plantio deve afetar safra
De acordo com os autores, a redução da área de plantio na região Centro-Sul trará consequências para a próxima safra
* Rubens L. do C. Braga Jr.
* Marcos G. A. Landell
A análise das áreas de plantio nos últimos anos mostra que a crise no setor sucroenergético está afetando significativamente a capacidade dos produtores da região Centro-Sul do Brasil em renovar os seus canaviais. Para estudar essas relações o Programa Cana IAC, com o patrocínio da Basf, Bayer e Syngenta e apoio da Fundag (Dundação de Apoio a Pesquisa Agrícola) lançou, em 2016, o Censo Varietal IAC, projeto liderado pelo consultor Rubens Braga Junior.
Iniciado em maio de 2016 esse projeto já levantou as áreas de variedades em 202 unidades produtoras totalizando, até o momento, 5,7 milhões de ha recenseados. Os resultados obtidos mostram que a proporção das áreas de plantio em relação à área total cultivada na safra 2016/17 foi a segunda menor já obtida na série histórica de 31 safras (Figura 1).
Outro aspecto interessante a ser observado está na distribuição das épocas de plantio. A ampla introdução do plantio mecanizado, que já ocupa 76% das áreas de plantio da região Centro-Sul (Benchmarking do CTC, 2014), forçou o plantio ao longo de toda a safra. Esse fenômeno fez com que, proporcionalmente, houvesse uma redução das áreas de plantio de cana de ano e meio e um aumento das áreas de plantio de cana de inverno, como pode ser observado na Figura 2.
A cana de ano e meio, que historicamente continha mais de dois terços dos plantios, nas últimas safras foi responsável por aproximadamente 50% das áreas reformadas.
Além da mecanização, outro aspecto que proporcionou o acréscimo na proporção de plantio de cana de inverno foi o grande crescimento do cultivo da cana-de-açúcar no Cerrado brasileiro, onde os resultados dessa época de plantio são muito promissores.
A redução das áreas de plantio ocorrida nos últimos anos impactou de forma direta no aumento de Estágio Médio de Corte (E.M.C.) ocorrido na safra 2016/17. Esse índice que estava dentro da faixa de qualidade (entre 3,10 e 3,44) nas duas safras anteriores, atingiu o valor de 3,46 na safra atual (Figura 3).
A maior preocupação é o valor do E.M.C. projetado para a safra 2017/18 que pelas estimativas obtidas atingirá o maior valor já alcançado na região Centro-Sul do País.
Estudos mostram que a produtividade em toneladas de cana por hectare (TCH) está significativamente correlacionada com o estágio médio de corte. Quando se relaciona o TCH calculado isolando-se o efeito climático do ano agrícola com o E.M.C, percebe-se que existe uma correlação linear superior a 95%, mostrando como as variáveis estão altamente relacionadas (Figura 4). É fato que, um novo biótipo de cana-de-açúcar, preconizado por alguns programas de melhoramento, como o do Instituto Agronômico (IAC), indicam que as novas variedades deverão apresentar uma maior população de colmos, como uma das condições para enfrentar alguns efeitos negativos da mecanização intensiva, trazendo como consequência, uma maior longevidade dos cortes. No entanto, o censo varietal 2016, mostra que variedades com este perfil ainda representam pouco da área cultivada, eliminando assim, a interpretação de que o E.M.C. estaria, neste momento, sendo influenciado por este novo perfil.
O uso de variedades mais longevas deverá ser uma tendência futura, o que fará com que a análise dos dados históricos deste indicador necessite de um maior detalhamento em função da alteração do perfil varietal para genótipos com população de colmos significativamente maiores do que as variedades que hoje predominam na grande lavoura.
Isolando-se os fatores climáticos, a partir da equação gerada pela relação entre o TCH e o E.M.C é possível estimar que a quebra na produtividade para a próxima safra será de 2,7%, apenas em função do envelhecimento do canavial.
Essa análise associada ao fato de que as usinas vão parar a moagem mais cedo nessa safra e, por consequência, praticamente não teremos cana bisada na próxima safra, projetam uma significativa redução na produtividade e na produção total da próxima safra.
*Rubens L. do C. Braga Jr é consultor da RBJ Consult
*Marcos G. A. Landell é pesquisador e diretor do Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico de Campinas)