Edição 188
Safra 2017/18: menos cana, menos açúcar
Além da perspectiva de uma queda de 4,41% na produção de cana, a oferta de açúcar também deve cair 3,23% na safra 2017/18 em todo o Brasil
A safra 2017/18 ainda será marcada pelas exportações de açúcar. Fazendo uma comparação com a safra 2015/16, o Brasil deve ter uma alta de 2,56% na oferta de cana, que passou de 663 para 680 milhões de t. O Centro-Sul deve ter um crescimento de 4,17% passando de 600 para 625 milhões de t enquanto o Nordeste deve ter uma queda de 12,70% passando de 63 para 53 milhões de t.
Pelo lado do açúcar deve haver alta de 13,52% no Brasil da safra 2016/17 em relação à safra 2015/16 que passou de 35,5 para 40,3 milhões de t. Somente no Centro-Sul deve haver uma alta de 17,74% passando de 31 para 36,5 milhões de t, ao passo que no Nordeste deve haver uma queda de 15,56% passando de 4,5 para 3,8 milhões de t a produção de açúcar.
Para a safra 2017/18, as estimativas iniciais da Safras & Mercado são de que ocorra uma queda de 4,41% na oferta de cana, que deve passar de 680 para 650 milhões de t entre a temporada 2016/17 e 217/18. No Centro-Sul a queda deve ser de 4% passando de 625 para 600 milhões de t enquanto no Nordeste a queda deve ser de 9,09% passando de 55 para 50 milhões de t.
A oferta de açúcar deve cair 3,23% na safra 2017/18 em todo o Brasil, passando de 40,3 para 39 milhões de t. No Centro-Sul a queda deve ser de 1,37% passando de 36,5 para 36 milhões de t. Já no Nordeste a baixa deve ser bem mais expressiva, na faixa de 21,05% passando de 3,8 para 3 milhões de t.
O Centro-Sul vai reafirmando o seu papel de maior concentração de cana do país, passando de 91,91% da safra 2016/17 para 92,31% na temporada 2017/18. Em 2015/16 a concentração de cana no Centro-Sul oscilava em 90,50%.
EXPORTAÇÕES
A princípio as exportações devem ser pouco afetadas. A queda moderada na oferta de cana (4%) resultará apenas em uma queda marginal na oferta de açúcar no Centro-Sul (1,37%). A maioria das usinas do Centro-Sul é composta por multinacionais que mantiveram o elevado tom de fixação de preço via contratos futuros observado na safra 2016/17 também sobre a safra 2017/18.
Com isto, existirá a necessidade de cumprimento dos contratos de exportação já firmados ao longo do terceiro e quarto trimestre de 2016 e também sobre os contratos que devem ser fechados no decorrer do primeiro trimestre de 2017. Em 2016, 98% da safra 2016/17 já havia sido precificada e contratada antes do primeiro semestre do ano.
Em 2017, com a safra 2017/18, este fenômeno deve se repetir. Até o quarto trimestre de 2016, 38% da safra 2017/18 já estava contratada e precificada, onde as usinas aproveitaram os maiores preços em quatro anos para o vencimento março de 2017 em Nova York que chegaram a US$/cents 23,80 com uma taxa de câmbio relativamente favorável.
A expectativa da Safras&Mercado para este ano é que as exportações brasileiras cheguem a 31 milhões de t, o que deve representar uma alta de 10,71% sobre a expectativa de 28 milhões de t que esperamos para o fim de 2016.
MIX 2015/16
No mix da safra 2015/16, o equilíbrio foi mantido. Tradicionalmente existe uma “bem comportada” relação de forte concentração de etanol no início da temporada – média de 60% – para depois haver um equilíbrio com o açúcar após os três primeiros meses de colheita, para a faixa de 51%.
A maior concentração de produção de etanol no início da temporada ocorre diante da necessidade de fluxo de caixa imediato para o pagamento de custos operacionais das usinas. Portanto, é o que esperamos também para 2017. Porém, com o decorrer da temporada, a necessidade de cumprimento dos contratos de exportação, faz com que o porcentual de cana destinado ao etanol seja reduzido para fabricação de açúcar.
A princípio, a queda nos preços internacionais da commodity deve ser neutralizada em grande parte, mas não na totalidade, pela desvalorização do real simultaneamente a uma valorização do dólar no mercado internacional – dois fatores distintos, mas com mesmo vetor sobre os preços do açúcar.
Logo, o mix deve apresentar pouca alteração sobre esta questão, estando mais exposto a questões domésticas de precificação do etanol hidratado no mercado interno – que agora sofre influência direta sobre o comportamento dos preços do petróleo e da taxa de câmbio do mercado internacional. Ainda assim, ao fim deste quarto trimestre de 2016, não observamos uma forte inclinação do mix de produção a favor do etanol para a safra 2017/18.
A desvalorização do real deve compensar a queda das cotações em Nova York, ao mesmo tempo em que as usinas devem manter a sua produção de açúcar crescente diante da necessidade de cumprimento do grande volume de contratos de exportação para a safra 2017/18 fechados no decorrer do terceiro e do quatro trimestre de 2016.
FIM DO SUPERAVIT INTERNACIONAL
Teremos o fim do déficit a partir da próxima safra internacional que começa em outubro de 2017. Isto terá um impacto negativo sobre os preços internacionais da commodity e deve representar uma queda na remuneração dos exportadores brasileiros que, em grande parte, conseguirão ser compensados pela desvalorização do real frente ao dólar, que deve elevar a remuneração da commodity em preços em reais.
INVESTIMENTOS DAS USINAS EM 2017
Isto ainda é uma incógnita diante do aumento das incertezas políticas e econômicas do Brasil no curto prazo. Economicamente é esperado uma recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) somente a partir de 2017 que deve ter resultados sobre a evolução da demanda agregada.
Como a demanda do açúcar é inelástica, as perspectivas de investimentos por parte das usinas devem estar focadas apenas em renovação dos canaviais com o objetivo de manter elevada a taxa de produtividade. Logo, projetos estratégicos visando expansão da demanda estão claramente arquivados para 2017 também.
Contribui para isto o elevado nível de endividamento das usinas com grande parte destas dívidas tendo sido feitas em dólares, o que acaba elevando o peso sobre o fluxo de caixa em reais destas companhias.
* Maurício Murici é analista da Consultoria Safras & Mercados