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Edição 199

Tecnologia Agrícola – Controle mais preciso de nematoides

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Responsáveis por reduzir a produtividade dos canaviais em até 30%, os nematoides precisam de controle adequado. Novas moléculas e formas de manejo podem ser a solução

Alisson Henrique

Natália Cherubin

Dentre as pragas mais recorrentes na cana-de-açúcar, os nematoides com certeza estão entre as mais comuns e impactantes. Segundo estudo da Sociedade Brasileira de Nematologia, os prejuízos causados pelos nematoides em cana-de-açúcar ultrapassam os R$ 12 bilhões. Em produtividade, as espécies mais importantes podem causar perdas de até 30% em TCH. Por isso, o controle adequado desta praga tem se tornado cada vez mais importante e vem despertando o interesse no desenvolvimento de novas moléculas e formas de manejo.

Quatro são as espécies que afetam a cana-de-açúcar. Em ordem de importância: Pratylenchus zeaeMeloidogyne javanicaPratylenchus brachyurus e Meloidogyne incognita, sendo essa última a mais rara em canaviais. De acordo com a pesquisadora do IAC e especialista em Entomologia e Nematologia, Leila Dinardo, cada um deles apresenta diferentes graus de infestação e severidade de danos à cultura e são responsáveis por reduzir a produtividade dos canaviais em cerca de 10%, podendo chegar até a 30%. “Em média, o produtor gasta de três a quatro toneladas de cana para tratar a área afetada por estes parasitos.”

O potencial de dano dos nematoides varia de acordo com uma série de fatores como espécie, nível de infestação, ciclo de corte (cana planta ou cana soca), tipo de solo, variedade, adoção de controle químico e/ou biológico. “A P. zeae é a mais comum e está amplamente distribuída nas principais regiões produtoras com potencial de dano que pode chegar a 20% no primeiro corte. Em áreas altamente infestadas com Meloidogyne sp, os danos podem ultrapassar os 40%. Embora o impacto destes agentes seja maior na cana planta, os nematoides também afetam o potencial produtivo da soca na ordem de 10 a 20 t/ha, assim como podem reduzir o vigor e a longevidade da cultura, demandando uma renovação antecipada do canavial (de um a dois cortes)”, afirma Gerson Dalla Corte, gerente de Portfolio da Adama.

De acordo com Mário Massayuki Inomoto, pesquisador do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Esalq/USP, a cultura da cana tem três características que favorecem os nematoides que geralmente ocorrem na cultura:

1) Solo com temperaturas elevadas durante a maior parte do ano;

2) Disponibilidade de raízes durante todo o ano, pois é uma cultura de ciclo longo;

3) E baixa disponibilidade de variedades resistentes.

“Estes três pontos acrescidos do fato de que os métodos de controle geralmente são utilizados antes ou durante o plantio da cana, ou seja, na sucessão com planta resistente aos nematoides (antes do plantio, na reforma do canavial) e via aplicação de nematicida sintético ou biológico durante o plantio, faz com que o controle seja efetuado somente a cada seis ou mais anos”, aponta Inomoto.

Diferentemente das outras pragas, que são mais facilmente encontradas durante monitoramento realizado em campo, os nematoides são organismos que vivem no solo, então a sua presença é notada através dos impactos já causados pela praga no sistema radicular da planta, que afetam sua capacidade de absorção de água e nutrientes. “Os danos são caracterizados pelo crescimento e desenvolvimento reduzidos das raízes e da parte aérea das plantas, afetando o potencial produtivo da cana”, adiciona Dalla Corte.

Apesar dos nematoides estarem presentes em todos os estados do País, São Paulo é onde os produtores canavieiros demonstram mais preocupação com os parasitos e, por isso, é o local que mais realiza amostragens de raízes e de solo, também com mais frequência do que em outros estados, de acordo com a pesquisadora do IAC. “Os sintomas causados pelos nematoides não são facilmente perceptíveis durante o desenvolvimento da cana, mas as irregularidades na lavoura podem indicar a presença deles. Se o produtor notar a redução no crescimento da planta e a redução da produtividade em sua lavoura, ele deve, antes de realizar o controle por meio de nematicidas, providenciar uma amostragem do solo e das raízes da área em um laboratório. Após esta confirmação, o agricultor deve entrar com o controle por meio de defensivos, seguindo as Boas Práticas Agrícolas”, salienta Leila.

Além disso, de acordo com a pesquisadora, o produtor deve realizar constantemente um trabalho de contenção da disseminação de nematoides no solo, como um bom terraceamento que evite a erosão do solo e o cuidado na limpeza dos maquinários.

NOVAS MOLÉCULAS

O segmento de nematicidas era dominado por moléculas bastante antigas, dos grupos organofosforados e carbamatos. E, de acordo com Dalla Corte, após mais de 20 anos sem nenhuma inovação, o Nimitz, produto desenvolvido pela Adama, inaugurou um novo grupo químico/modo de ação, algo inovador para o segmento.

“No mês de maio de 2018, a Adama lança um nematicida específico para a cultura de cana-de-açúcar, atendendo às especificidades deste cultivo. O produto se chama Legado e é o primeiro nematicida desenvolvido para o mercado de cana-de-açúcar. Enquanto os nematicidas tradicionais são conhecidos como nematostáticos (apenas paralisam temporariamente a atividade dos nematoides), Legado apresenta uma ação rápida e irreversível afetando todas as fases do ciclo dos nematoides. Seu amplo espectro de controle apresenta alta eficiência sobre as principais espécies de nematoides fitopatogênicos de relevância no Brasil, especialmente dos gêneros de Meloidogyne sp e Pratylenchus sp”, destaca Dalla Corte.

Ainda de acordo com ele, o produto tem longo residual de controle, podendo ultrapassar os 200 dias, tem formulação moderna de fácil preparo de calda e compatível com as principais misturas em tanque do mercado e baixa dose por hectare, perfil toxicológico e ambiental mais brando que os demais nematicidas, sem limitações para uso em áreas certificadas, não possui interação com herbicidas, tem alta sistemicidade, garantindo proteção ampla do sistema radicular e respostas de produtividade superiores aos nematicidas atuais, tanto em cana planta como em cana soca.

“Em cana planta a recomendação para o Legado é aplicação em sulco de plantio em dose de 1,0 l/ha sobre os toletes em faixa de 50 cm de largura, fechando o sulco em seguida. E em cana soca deve ser aplicado na linha de plantio na dose de 1,0 l/ha, utilizando um disco para cortar a touceira e aplicar o produto dentro da linha de corte. A aplicação deve ser realizada por volta de 30 dias após a colheita. Além disso, seu modo de ação é bastante específico sobre nematoides fitopatogênicos, não afetando a biota do solo e permitindo o uso integrado ou em rotação com agentes de controle biológico (fungos e bactérias), tanto na cana planta como na cana soca.”

O potencial de dano dos nematoides varia de acordo com uma série de fatores como espécie, nível de infestação, ciclo de corte (cana planta ou cana soca), tipo de solo, variedade, adoção de controle químico e/ou biológicoA Stoller lançou, em 2017, um bionematicida que se destaca por ter em sua base um fungo chamado de Pochonia chlamydosporia, que se caracteriza por não ser específico a nenhum nematoide, ou seja, é capaz de controlar todas as espécies de importância econômica. “O bionematicida Rizotec, por ser um isolado do fungo Pochonia chlamydosporia (Cepa PC 10), que foi selecionado por sua virulência aos nematoides e pela alta capacidade de se reproduzir, além da boa permanência no solo, traz estabilidade nos resultados. Ele apresenta alta efetividade de parasitismo de ovos, de indivíduos juvenis e controle de fêmeas de diferentes espécies de nematoides”, destaca Roberto Risolia, engenheiro agrônomo e gerente de Marketing da Stoller.

O bionematicida possui uma estrutura que resiste a alguns estresses da planta, sobretudo o hídrico. Ele sobrevive na matéria orgânica e possui uma relação de benefício mutuo com a planta, que vai além do controle de nematoides. “Na última coleta de dados vimos um incremento médio de produtividade em São Paulo nas áreas atacadas de 20% em toneladas por hectare na cana soca. Isso de forma robusta, com todos os experimentos mostrando resultado.”

Outro ponto é que, pelas suas características, é possível recomendar a aplicação na soqueira na maioria das situações. “O Rizotec dá a possibilidade de vislumbrar – com as pesquisas que temos conduzindo -, muita novidade no controle de nematoides e outros benefícios de fonte biológica para o futuro. Ele pode ser usado tanto na planta, dentro do sulco de plantio, como na soqueira quando no processo de corte. Por ser um fungo, deve ser aplicado diretamente no solo”, afirma Risolia.

Apesar do bionematicida ser eficaz, outras práticas devem ser adotadas, sobretudo onde a concentração de nematoides é alto como, por exemplo, na aplicação conjunta com alguns nematicidas químicos, no plantio e na rotação de culturas como pratica entre reformas. “É importante dizer que o produto, se usado na soqueira da cana, pode possibilitar ao produtor ficar anos sem fazer o controle, tendo o nematoide bem manejado durante toda o ciclo da cana. Isso traz maior longevidade do canavial. ”

Leila Dinardo: “Se o produtor notar a redução no crescimento da planta e da produtividade, ele deve, antes de realizar o controle por meio de nematicidas, providenciar uma amostragem do solo e das raízes da área em um laboratório”Alexandre Sene Pinto, doutor em Entomologia e consultor em Manejo de Pragas Agrícolas, afirma que o controle de nematoides de forma biológica vem crescendo nos últimos anos. Uma série de fungos e bactérias ou uma mistura deles caracterizam os produtos biológicos comerciais de várias empresas.

“São inúmeras as vantagens sobre os nematicidas químicos, tais como realmente matarem os nematoides em várias fases de desenvolvimento (a maioria dos nematicidas químicos não matam realmente, somente afetam apenas algumas fases dos mesmos).

Além disso, eles tem efeito fitotônico nas plantas, auxiliam na nutrição e combatem fungos oportunistas que penetram as raízes após a entrada dos nematoides. Uma nova era surge para os nematicidas biológicos”, destaca.

ADUBAÇÃO VERDE

Além do controle químico e biológico, a rotação de culturas é uma das alternativas que também fazem parte do manejo destas pragas. É no período de sucessão em que se aproveita o curto período da reforma do canavial para a implantação de uma cultura resistente ao nematoide.

Segundo Inomoto, a sucessão com plantas resistentes traz grandes benefícios, mas não substitui o controle químico e deve ser vista como medida complementar. Além de reduzir a população de nematoides, a sucessão é extremamente vantajosa para o canavicultor, pois, dependendo da cultura escolhida pode:

1) Amortizar os custos do plantio da cana e reduzir riscos pela diversificação da cultura (sucessão com amendoim ou soja);

2) Melhorar as características físicas do solo (sucessão com guandu);

3) Diminuir a necessidade de adubação nitrogenada (sucessão com guandu, crotalarias e mucunas);

4) Diminuir o risco de deficiência hídrica (sucessão com crotalarias, principalmente Crotalaria juncea);

5) Diminuir a incidência de plantas invasoras e os riscos de erosão durante a primavera e o verão.

Com base na produtividade do canavial, nos últimos anos e nos resultados de análises nematológicas, o canavicultor deve escolher a cultura mais apropriada para controle do nematoide predominante no local.

No entanto, segundo Inomoto, indica-se o amendoim para controle de PzeaeMjavanica e Mincognita, a soja, guandu, mucunas e Crotalaria juncea para controle de PzeaeCspectabilis para controle de PzeaeMjavanicaMincognita e Pbrachyurus. “Quase sempre, a sucessão é realizada durante a reforma do canavial, então é possível somente um ciclo cultural. Geralmente a semeadura é feita no início do período chuvoso. A cana é a cultura que utiliza mais nematicidas no Brasil e uma nas quais a sucessão visando ao controle de nematoide é mais utilizada”, conclui.

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