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Edição 199

Tecnologia Agrícola – Drones para análise de falhas dos canaviais

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O uso de drones tem permitido a gestão das falhas com a localização e quantificação das mesmas. Assim, a usina tem um indicador da qualidade do plantio e subsídio para avaliar se o replantio é necessário

Alisson Henrique

O sensoriamento remoto tem sido cada vez mais utilizado para o mapeamento de variações de crescimento e estimativas de produções na agricultura. Seu uso vem sendo adotado como uma importante opção para a aplicação e utilização de novos conhecimentos no setor sucroenergético, auxiliando o produtor nas estratégias de gerenciamento. A identificação e quantificação de falhas nas linhas de plantio dos canaviais, atividade que é de extrema importância para verificar a uniformidade da germinação, calcular as perdas e estimar produtividade, é uma das tarefas que vem sendo possíveis graças aos drones.

Na maioria dos casos, a forma para a detecção de falhas em linhas de plantio em culturas é realizada manualmente, o que ocasiona, segundo especialistas, erros consideráveis de estimativa e identificação. Em alguns casos utiliza-se análises com imagens de satélites, no entanto, os resultados obtidos com as estimativas muitas vezes são grosseiros. “O grande problema da última técnica está na aplicação superestimada ou subestimada para a quantidade de produto necessário ao tratamento da planta”, afirma José Olavo Vendramini, gerente Corporativo de Desenvolvimento e Tecnologia Agrícola da Usina Guarani.

LEVANTAMENTO DE FALHAS MAIS PRECISO

Segundo Antonio Zattoni Afférri, sócio e consultor da RPA Consultoria, estudos comprovam que para cada 10% de falhas observadas no campo projeta-se uma perda 3,2% no rendimentoVendramini conta que a utilização dos drones permite a gestão de falhas no canavial com a localização e quantificação das mesmas. Assim, a usina tem o subsídio para avaliar quando o replantio é necessário, além de contar com um indicador da qualidade do plantio, que permite elevar a produtividade nos sucessivos ciclos e postergar a reforma dos canaviais, diluindo o custo de implantação e aumentando o retorno econômico das áreas de produção.

“Os drones, de forma geral, têm trazido vários benefícios no processo de produção do setor, auxiliando no levantamento primitivo para sistematização de áreas, implantação de curvas de nível, atualização cadastral dos talhões e áreas de APP, análise da qualidade do plantio e falhas na implantação do canavial, identificação de anomalias e plantas invasoras, estimativa de biomassa etc”, acrescenta Eduardo Siqueira, diretor Comercial da Dusiqueira.

A Usina Diana é outra que tem se beneficiado ao uso de drones para a realização da tarefa. Segundo Lucas Kellner, coordenador de Qualidade Agrícola da empresa, os drones tem auxiliado muito no levantamento de falhas de plantio. Ele explica que na hora de fazer a estimativa de safra, a usina utiliza o equipamento para avaliar uma possível falha no meio do talhão, o que seria impossível de ser vista do carreador. “Também utilizamos o drone para controle biológico e na liberação de cotesias e trichogramma para controle da broca da cana-de-açúcar. Outra utilidade da ferramenta é quanto ao mapeamento de manchas isoladas de infestação de plantas daninhas”, adiciona.

Siqueira explica que a identificação e quantificação de falhas nas lavouras de cana-de-açúcar via drones trazem como maior benefício a agilidade com o que o processo é feito. “A identificação com rapidez nesse levantamento para tomada de decisão é importante, pois as usinas fazem gestão de áreas enormes, inúmeras glebas e talhões. Levantar de forma manual é um processo lento e tem como base a amostragem das falhas em pontos aleatórios, estando sujeito à erros estatísticos e do processo. Com o uso de drones/vants, esse levantamento se torna muito mais produtivo e confiável, pois a informação está à disposição de auditoria. Com esse sistema, o campo pode ser avaliado por uma equipe multidisciplinar a qualquer momento, sem a necessidade de levar as pessoas para o campo e percorrer áreas extensas atentando para o momento certo do levantamento. Com certeza a produtividade da avaliação será muito menor e sujeita a discussão”, enfatiza.

Com relação a quantificar, tudo deve ser quantificado, não apenas as falhas, ele acrescenta. “A liderança acompanha o processo pelos KPIs. A falha em questão é um indicador de qualidade de um canavial produtivo e influencia no potencial produtivo do talhão e sua vida útil. Um canavial com alta porcentagem de falhas no plantio deve ser replantado. ”

O principal ganho, afirmam especialistas, é a qualidade da informação levantada, além da possibilidade de levar o ambiente de interesse para um time multidisciplinar, uma vez que o levantamento realizado para avaliar falhas pode ser aproveitado para extrair muitas outras informações como relevo, erros de operação, vigor, espaçamento e erosão, além de levantar as linhas de cana para uso no piloto automático da colheita e tratos culturais.

O sensoriamento remoto tem sido cada vez mais utilizado para o mapeamento de variações de crescimento e estimativas de produções na agricultura de precisão (Foto: Milton Maracaju)IDENTIFICANDO FALHAS EM LINHAS DE PLANTIO

Para identificar uma falha, antes de tudo, deve-se saber o que é considerada uma falha. Antonio Zattoni Afférri, sócio e consultor da RPA Consultoria, cita que Rubismar Stolf, doutor e engenheiro agrônomo, em sua metodologia de avaliação de falhas nas linhas de cana-de-açúcar, propõe um modelo teórico acerca da ocorrência de falhas nas linhas da cana-de-açúcar com base em curvas de distribuição.

O valor obtido, X = 0,5 m é proposto como norma para sistemas em linha com distribuição continua de muda nos sulcos. “Em seu modelo, o autor permite explicar de maneira clara porque o valor X = 0,5 m obtido é próximo dos valores de um consenso, segundo o qual os produtores passam a considerar uma falha como tal. O critério é extremamente simples, bastando contar e computar o somatório dos metros de falhas acima de 0,5 m, num determinado trecho de linha.”

De acordo com Afférri, o trabalho permitiu comprovar uma grande sensibilidade de correlação entre falhas e perdas de rendimento agrícola, numa relação de 3:1,ou seja, para cada 10% de falhas observadas no campo projeta-se uma perda de 3,2% no rendimento. “Esta ordem de grandeza foi semelhante para cana planta e soqueiras com idade de até 12 meses, segundo o autor”, acrescenta.

A identificação das falhas e linhas de plantio são geradas a partir da captura das imagens obtidas pelos drones que posteriormente são processadas com precisão centimétrica e geradas através de algoritmos semi automatizados. “É possível também gerar curvas de nível com piloto, fluxo direcional de enxurrada, indicador de pisoteio dos tratores nas linhas e várias soluções que podem ser oferecidas”, revela Siqueira.

PROCESSO

O processo se inicia com o planejamento do estudo da área desejada, entendendo suas características e definindo quais as melhores estratégias de criação da malha de pontos de apoio terrestre e voo, onde são estipuladas definições como altura de voo, GSD desejado e sobreposição para a geração de um mosaico de alta qualidade, atendendo as regras e padrões de aerofotogrametria com drones/vants.

A realização do voo deve acontecer respeitando a capacidade de mapeamento da aeronave disponibilizada para a área. Caso necessário, podem ser realizados mais de um sobrevoo na área. “O processo consiste no sobrevoo das áreas de plantio com veículos aéreos não tripulados equipados com câmeras que fazem o mapeamento em alta resolução da área. Em seguida, essas imagens são enviadas para uma central onde são tratadas e analisadas, permitindo a identificação e quantificação das falhas de plantio”, explica o gerente Corporativo de Desenvolvimento e Tecnologia Agrícola da Guarani.

Na Usina Diana os drones são usados para fotografar as áreas que já estiverem com 80 dias plantadas. Após esse levantamento as imagens são enviadas para uma empresa especializada para serem trabalhadas com o auxílio de um software. “Após esse trabalho eles nos devolvem as imagens interpretadas com a porcentagem, localização e intensidade dessas falhas. É a partir dessa devolutiva que nós iremos decidir se é viável ou não fazer o replantio das áreas e também a melhor forma de executar esta tarefa”, revela Kellner.

CUSTOS

Em relação à redução de custos, Siqueira conta que ela não é imediata. Ele explica que o produtor investe em uma ferramenta que traz informação para tomada de decisão e essas decisões visam o incremento da produtividade e redução de custos. O gerente Corporativo de Desenvolvimento e Tecnologia Agrícola da Guarani afirma que a utilização de drones no levantamento de falhas permite verificação em área total, quantificando e georreferenciando todas as falhas, diferente do método antigo que é sujeito à critérios de amostragem e extrapolação. “Além disso, o levantamento por drones diminui significativamente a demanda de mão de obra, além de permitir a cobertura de 100% da área plantada com uma equipe pequena, se comparado ao método antigo. ”

Kellner defende que a precisão do levantamento realizado pelo drone é maior, pois ele percorre todas as linhas. Com isso, além de ter maior confiança, proporciona ganhos no rendimento operacional.

Hoje um dos principais gargalos da operação, pontuam as fontes ouvidas pela RPAnews, é a mão de obra. Além disso, eles afirmam que há falta de visão dos gestores em enxergar os benefícios e provocar mudanças dentro do processo existente, uma vez que, se aprovado, o projeto do uso dessa ferramenta deve ter um escopo robusto contendo todas as ferramentas necessárias como softwares, computadores de alto desempenho, pessoas motivadas e, principalmente, um equipamento (drone/vant) com performance comprovada e que dê mobilidade na operação, de preferência com correção cinemática dos sistemas GNSS (RTK).

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