Estão em fase final os testes em campo da cana BtRR, variedades geneticamente modificadas de cana-de-açúcar que unem dois modos de ação para garantir resistência à broca-da-cana e ao herbicida comercial glifosato, usado no controle de plantas invasoras. Desenvolvidas nos laboratórios da Embrapa Agroenergia (DF) em parceria com a startup PangeiaBiotech, as variedades demonstraram ser resistentes à aplicação de quatro vezes a dosagem comercial do herbicida glifosato e à infestação com larvas da broca-da-cana em casa de vegetação.
O projeto combinou dois genes de resistência com modos de ação diferentes para ampliar a proteção da cana contra a broca mais o gene que confere resistência ao herbicida glifosato.
Para a transformação genética da cana, foram selecionados genes com liberdade de exploração (em inglês, FreedomtoOperate – FTO) comumente usados nas culturas da soja, milho e algodão no Brasil e que agora foram adaptados para a cana
O certificado FTO foi concedido em janeiro de 2019 pela empresa ClarkeModet & Co,contratada para executar a análise de anterioridade para cada gene utilizado na pesquisa, o que inclui a verificação sobre a existência de registros ou patentes de terceiros, e também da legislação brasileira. O resultado mostrou que não há proteção no território brasileiro para a exploração comercial da cana BtRR.
“O grande diferencial dessa tecnologia é a expressão de duas proteínas bioinseticidas em toda a extensão da planta, tóxicas para insetos suscetíveis, porém inócuas para outros organismos. Dois modos de ação aumentam a vida útil da tecnologia”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia Hugo Molinari, líder do projeto. “Aliado a isso, a resistência ao herbicida facilita o manejo de plantas daninhas no campo”, completa.
A “dupla transgenia” dificulta a quebra da resistência, otimizando o controle da broca-da-cana, feito por meio de inseticidas químicos e controle biológico. Atualmente, o mercado dispõe de duas variedades de cana-de-açúcar transgênicas (CTC20Bt e CTC9001Bt), desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para resistência a broca-da-cana, porém, com apenas uma proteína Cry e sem resistência ao herbicida glifosato.