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Edição 188

Você é uma pessoa questionadora? Ou você reclama demais?

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Empresas precisam de pessoas que questionem e contribuam, e não pessoas que só reclamam e se colocam de forma vitimizada na situação

 Beatriz Resende

Cansamos de ouvir que as empresas têm buscado profissionais que sejam questionadores e que esse perfil traz o crescimento da organização, das relações e dos resultados. Também ouvimos que um dos traços fortes da geração Y, muito estudada nos últimos anos, é o perfil de questionamento trazido por esses profissionais e pessoas, o que contaria ponto na escolha dos talentos num processo seletivo de alto nível, para que as empresas evoluíssem através deles.

Isso é impactante na teoria e no discurso formatado que vemos no mercado da inteligência da gestão, mas a realidade é que nem as empresas estimulam esse perfil questionador, mesmo que o tenham buscado no mercado para atender ao chamado das boas práticas, e nem as pessoas têm demonstrado essa postura nos seus perfis. Sim, temos muita gente no patamar de reclamadores de plantão, mas na concepção da ideia do que é ser alguém que questiona, para contribuir, isso é quase nulo.

* Beatriz Resende é consultora
Empresarial, Palestrante & Conselheira
de Carreiras daDra. Empresa e
Coerhência – Consultorias Empresariais

Nossa formação familiar, escolar e religiosa, primeiramente, e posteriormente a profissional, não nos estimulou e nem nos estimula a desenvolver um perfil questionador. Em nenhum nível. Subimos de patamares. Galgamos degraus da carreira, adquirimos espaços e status, ganhamos mais, mas continuamos a ter limites claros e já aceitos sobre o que e quanto podemos falar, opinar, expressar, arriscar, contribuir e pensar. E achamos que mandamos ou mudamos alguma coisa.

Existem micro e macro cenários que isso possa acontecer? Talvez sim, numa cultura que já esteja evoluída e lapidada, onde egos e vaidades tenham sido trocados pela afiliação e comunhão de propósitos e ganhos. Em cenários de medo, insegurança, instabilidade e confiança baixa, esse traço aparece menos ainda. Vamos questionar o que? Ou melhor, vamos nos arriscar a questionar e perder algo que nos é muito precioso? Quem arrisca?

Os ambientes empresarias ainda não têm espaço para tal: se pouco o têm ainda para criatividade; inovação; erro e acerto; aprendizagem compartilhada; preparação e pessoas para posições futuras; transparência em assuntos como remuneração e valorização; e diálogos ainda escassos ou distorcidos na relação mais poderosa que são as pessoas e líderes, como podemos estimular, fazer valer e reconhecer pessoas que possam, com sua essência questionadora, contribuir para a evolução em diversos aspectos? Mas isso tudo não impede que possamos, como indivíduos, atender ao nosso chamado interno que, uma hora ou outra, nos convida de forma mais suave ou sutil, num primeiro momento, ou mais agressiva e intensa, a sair da zona de estacionamento onde temos guardado, por muitos anos, a nossa capacidade de questionar e contribuir para a mudança. A começar da nossa, a de dentro.

Questionar vai além de simplesmente apontar algo como ruim ou errado, e ficar na primeira fila do show, torcendo para que as coisas continuem como estão. Isso é o que a maioria faz para justificar a impotência, inércia, invalidez e a pouca fé que as pessoas têm sobre si e o outro. Para questionar algo é preciso ter conhecimento, vivência, boas intenções e contribuições para ofertar à situação questionada. É preciso ter postura positiva, flexibilidade, lucidez e propriedade, com credibilidade, para, de fato, trazer algo que realmente faz sentido.

Pais, professores, coordenadores de escola, líderes (todas as instâncias), dirigentes, mentores, coaches, consultores, conselheiros e demais responsáveis pelo desenvolvimento de seres humanos, visões, estratégias e paradigmas: deem exemplos que estimulem verdadeiramente o bom questionamento, aquele que constrói, aquele que nos capacita a estar num mundo em constante evolução.

A postura que temos visto no cotidiano pessoal e empresarial não combina com o discurso da evolução, o qual nos bombardeia diariamente. Não fecha.

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