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Venda de colhedoras para o segmento canavieiro aumentou em 2020

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cana, máquinas, colhedoras

Foto/Reprodução: Crédito Atvos

Por Natália Cherubin

Mesmo com a pandemia do Covid-19, o setor sucroenergético recuou, mas não deixou de investir em máquinas agrícolas como tratores e colhedoras de cana. De acordo com dados recentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), foram vendidas em novembro 51 colhedoras de cana para o mercado interno, um avanço de 121% em relação ao mesmo período de 2019, quando foram vendidas 23 colhedoras.

Leia também: Produção da safra atual de cana-de-açúcar deve crescer 3,5%, diz Conab

No acumulado até o mês de novembro de 2020, já haviam sido vendidas 692 colhedoras de cana, 47 máquinas a mais do que o registrado em todo o ano de 2019.

Já nas exportações de colhedoras, de acordo com dados da Anfavea, deverá haver uma queda. Isto porque até novembro deste ano haviam sido exportadas 138 colhedoras, uma queda de quase 30% se comparado ao mesmo período de 2019, quando haviam sido exportadas 197 máquinas.

A John Deere Brasil começou 2020 com expectativas positivas para o mercado canavieiro e mesmo depois da pandemia, continuou confiante, já que a safra sustentou os preços e o agronegócio continuou produzindo e sustentando o PIB brasileiro.

De acordo com Marcelo Lopes, diretor de Vendas da John Deere Brasil, que não revelou os números da companhia, as atividades foram sendo retomadas resultando em um desempenho superior ao de 2019.

Houve aumento na demanda por tratores e colhedoras de cana, mas principalmente uma maior adesão a tecnologias que conectam as máquinas e permitem o monitoramento das operações no campo e a captação de dados agronômicos em cada etapa do sistema de produção.

“Os equipamentos e soluções tecnológicas no setor canavieiro são cada vez mais importantes para garantir a máxima produtividade na lavoura, com redução de custos e sustentabilidade. Por isso, os produtores têm buscado equipamentos que disponibilizem tecnologias inovadoras que permitam tomadas de decisões de forma imediata, automações e o planejamento analítico de novas ações”, afirmou Lopes.

Para a Jacto o ano começou aquecido nos três primeiros meses para o mercado de etanol, mas arrefeceu após a chegada da pandemia e as restrições de deslocamento, fazendo com que o mercado ficasse abaixo da expectativa no segundo e no terceiro trimestre.

Segundo Fábio Torres, gerente de vendas para Cana-de-Açúcar da Jacto, no quarto trimestre o mercado de etanol e de açúcar começou a reagir. No entanto, neste mesmo momento o mercado de grãos estava extremamente aquecido o que gerou uma grande demanda por máquinas agrícolas.

“Dessa forma, quando o setor sucroenergético resolveu comprar já não havia muitos equipamentos disponíveis. Usinas e produtores de cana tiveram muita dificuldade nesta época em encontrar pulverizadores, tratores e caminhões”, afirma Torres.

O Grupo Tracan, que engloba a concessionária da Case IH, DRIA e TMA Máquinas, empresa fabricante de máquinas e implementos para cana-de-açúcar, teve uma queda de cerca de 20% nas vendas, ante a projeção inicial. Mesmo assim, para colhedoras de cana o mercado se manteve igual ao ano anterior.

“O mercado tirou o pé de tudo. No entanto, a partir de maio e junho, sentimos uma boa reação e nos surpreendeu em vendas e procura. Algumas usinas compraram um pouco menos do que o planejado no início da safra porque acreditam que os preços vão estar mais equalizados no próximo ano”, afirma Márcio Leão, gerente corporativo Comercial da Tracan, concessionária Case IH e TMA Máquinas.

Aumento dos preços e planejamento

O preço de alguns tratores usados pelo segmento cana, por exemplo, chegaram a um reajuste de 32% em relação ao ano anterior, de acordo com Leão.

Paulo de Araújo Rodrigues, produtor e diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel, revela que procurou antecipar a demanda de máquinas que terá em 2021 em função de dois fatores.

“Um é a possibilidade de não ter equipamento disponível em função da Covid-19 ter prejudicado o fornecimento de peças para as montadoras. O segundo é o fato de que algumas cadeias produtivas, que tiveram bons resultados, estão comprando bastante máquinas. O mercado de cana está começando a acelerar agora, então isso também nos leva a uma perspectiva de que a demanda de máquinas em geral deve aumentar. Outro ponto é o aumento de preços que pode acontecer, seja por conta da dificuldade de entrega, seja por conta do aumento de demanda do setor de grãos e cana”, aponta o produtor à RPAnews.

De acordo o diretor de Vendas da John Deere Brasil, ainda é prematuro falar sobre os preços em 2021, considerando a volatilidade de uma série de aspectos, que vão desde a pandemia ao comportamento do mercado, passando pelos fundamentos do cenário econômico brasileiro e desempenho do agronegócio.

No entanto, diante do cenário atual, Lopes recomenda que o produtor foque no planejamento de seus investimentos e iniciem as negociações com antecedência. Outro ponto importante, segundo ele, é planejar a manutenção da frota durante a entressafra.

“Hoje, temos soluções financeiras que podem ser consultadas com um de nossos concessionários, para viabilizar um processo robusto de manutenção que resultará em melhor disponibilidade durante a próxima safra”, adiciona Lopes.

Diante da possibilidade da falta de peças e componentes no mercado, o que pode atrasar a entrega de máquinas, o Grupo Tracan, para 2021, fez uma programação com os fornecedores de aço, matéria-prima que teve elevações de preço consideradas por Leão como absurdas.

O aço em lâminas, por exemplo, teve um reajuste de 24%. Já o aço em tubos e perfis, tiveram reajuste em torno de 32%. “Estes itens tiveram estes reajustes devido à alta do dólar”, afirma Leão.

“Conseguimos fazer uma boa programação do que foi vendido e sobre a projeção de vendas. Estamos recebendo a matéria-prima, não no time que precisamos, mas estamos recebendo. Alguns componentes que são importados, itens de tecnologia, teremos dificuldades de entrega. O que estamos vendendo hoje poderá somente ser entregue entre março e abril por conta de algumas matérias-primas”, afirma o gerente corporativo Comercial na Tracan e TMA Máquinas, empresas do Grupo Tracan.

Os produtos, chamamos de prateleira, como é o caso do transbordo da TMA Máquinas, como é o caso do VTX5022, de quatro eixos, podem ter atrasos na entrega devido a dificuldades da companhia na compra de rodas e cilindros.

“Tivemos uma venda considerável para a São Martinho. Estes transbordos de quatro eixos tem um pacote tecnológico, que é o equalizador de subida, que depende de componentes importados. Tínhamos feito essa previsão antes, mas, mesmo assim, estamos recebendo componentes que eram para ter chegado entre fevereiro e março, ou seja, no limite da produção. Se houver falha, podemos ter problemas de entrega”, afirma Leão.

As fábricas da John Deere no Brasil pararam entre março e abril, de 15 a 20 dias para que pudessem ser reorganizadas de forma a atender aos protocolos de segurança então estabelecidos pelos órgãos competentes.

No entanto, logo as operações foram retomadas seguindo todas as medidas necessárias de prevenção, proteção e com reforço dos cuidados com a saúde dos colaboradores.

“Como já tivemos estas paradas, não teremos problemas nas entregas de máquinas em 2021.Reforço apenas que é preciso que os clientes planejem os investimentos e iniciem as negociações com antecedência para trabalharmos juntos os prazos de entrega. Os prazos variam de acordo com a região, concessionária e equipamento adquirido”, afirma Lopes.

Torres revela que apesar da linhas de montagem da Jacto já estarem atendendo todas as normas relacionadas ao Coronavírus, está muito complexo produzir equipamentos sofisticados, com peças vindas de vários países do mundo, com a alta do dólar, alta do aço e todas as incertezas quanto ao fornecimento regular de matéria-prima.

“Em contrapartida, o  mercado de grãos está extremamente aquecido e investindo na aquisição de equipamentos, o que estende o prazo de entrega em quase todos os fabricantes. Dependendo do produto, o tempo de espera pode variar de 4 a 6 meses. Não existe praticamente opções para comprar e receber em curto prazo, falando em máquinas agrícolas”, destaca Torres.

A Jacto, que trabalhava com uma lista de preços anual, ou seja, não fazia alterações no preço ao longo do ano, teve que mudar diante das consecutivas altas do aço, dólar e demais materiais.

“Está tudo muito instável e imprevisível. É difícil fazer qualquer prognóstico, mas enquanto os custos da matéria-prima não se estabilizarem, certamente poderão ocorrer aumentos de preços. Quem está renovando a frota deve, primeiramente estar ciente que os prazos de entrega hoje estão mais longos e planejar a compra com antecedência, para ter o maquinário disponível no momento adequado”, conclui Torres.

Fábio Torres, Jacto fala da venda de máquinas para o segmento cana

Torres: “Quem está renovando a frota deve, primeiramente estar ciente que os prazos de entrega hoje estão mais longos e planejar a compra com antecedência, para ter o maquinário disponível no momento adequado.”

Sem demissões

O Grupo Tracan, mesmo com as dificuldades e redução das vendas, não realizou demissões em 2020. O grupo, que normalmente faz férias coletivas entre os meses de junho e julho, teve um ano um pouco diferente. Entre junho e julho a empresa aderiu ao Programa 937, do governo Federal, suspendendo temporariamente contratos de trabalho.

“Fizemos isso em junho e julho. Em agosto colocamos parte da equipe da fábrica de férias, ou seja, ficamos com a produção praticamente parada, produzimos muito pouco em junho, julho e agosto. Aproveitamos este momento para fazer a inserção do portfólio DRIA dentro da fábrica da TMA. Trouxemos a linha de montagem e componentes para começar a montar a partir de setembro os produtos da DRIA nesta fábrica. Assim foi possível manter todos os empregos”, revela Leão.

Para 2021, de acordo com ele, as empresas do Grupo como TMA e DRIA terão um programa orçamentário bastante otimista. “Este ano vamos fechar 20% abaixo do que programamos, mas manteremos o mesmo patamar de vendas de 2020 para 2021. Estou confiante que vamos reverter isso no próximo ano.”

Segundo Leão, no segmento canavieiro há uma demanda represada, pois, muitas usinas compraram uma quantidade bem menor do que necessita de máquinas.

“Para passar esse período de preços absurdos dos tratores, as usinas estão preferindo trabalhar com o que tem para renovar em 2021. Com a reação dos preços do etanol e do açúcar, com certeza temos tudo para ter um setor com melhor rentabilidade e, consequentemente, maiores investimentos”, afirma Leão.

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