Home Edição 193 Gestão – Relações profissionais de trabalho x amizade no trabalho
Edição 193

Gestão – Relações profissionais de trabalho x amizade no trabalho

Share
Share

*Beatriz Resende

Dra. Empresa – Consultoria Empresarial (www.draempresa.com.br) Ainda há uma grande confusão sobre esse temaSempre choco as pessoas quando toco nesse assunto, mas é preciso fazê-lo. Existe uma grande confusão entre estabelecer relações de trabalho amistosas, respeitosas e até com laços de afeto e admiração, e relações de amizade que muitas vezes interferem no exercício dos nossos papéis profissionais, especialmente quem tem posições de liderança na empresa.

É claro que o fato das pessoas convi-verem por muito tempo e por um período muitas vezes longo na mesma empresa, fortalece o surgimento de vínculos que transcendem as relações profissionais. Não entramos numa empresa com o objetivo principal de fazer amigos, mas acabamos por fazê-los pelo aspecto citado acima.

Quando falo para as pessoas sobre este ponto, muitas me olham de forma questionadora e assustada, até pelo fato da minha postura sempre colhedora, amável e carinhosa com todos. Parece que o discurso não combina com o meu perfil, penso eu sobre o olhar que as pessoas devam ter quando faço essa colocação. Mas logo esclareço e me posiciono da seguinte forma: não estimulo que a relação de trabalho seja fria e impessoal, muito pelo contrário. Mas acendo aqui uma importante faísca para que as pessoas pensem a respeito: travem relações nas empresas dentro de um nível que você possa ou precise, num momento que esta relação for colocada em xeque, tomar uma posição profissional em prol do chamado laço de amizade. É só isto que eu quero deixar como um aspecto a ser cuidado por você.

A preocupação não está somente no fato das pessoas uma hora se estranharem porque o papel profissional teve que ser mais forte do que a amizade, e uma das partes ter se sentido traída. Além do desconforto que passamos, como líderes, de ter que atuar de forma mais veemente com um colega-amigo (feedback mais duro ou uma demissão), e sofrer além da cota com isto, a empresa acaba sendo prejudicada quando esses laços mal conduzidos afetam as atividades, os resultados e o clima. As empresas não podem sofrer baques por causa disso. Questões pessoais tratadas de forma emocional interferem diretamente nos propósitos maiores do negócio.

Somos adultos e só podemos entrar na relação de trabalho na fase adulta das nossas vidas. Portanto, precisamos nos situar melhor e ter a compreensão do impacto de nossos atos no contrato de trabalho. E nas nossas oportunidades de carreira.

Muitas empresas têm como política interna a não contratação de pessoas que tenham vínculos prévios com profissionais do quadro atual. Isso impede que as pessoas façam novos vínculos? Claro que não! Mas é uma forma de reduzir ou minimizar conflitos pessoais e de interesse. Outras têm como norma não contratar familiares ou cônjuges e até mesmo de abrir mão de um dos profissionais que acabam estabelecendo relações afetivas dentro da empresa. Respeito todas as regras e acho que as empresas têm direito a elas, e o importante é que elas sejam de conhecimento de todos e válidas para todos os casos, sem exceção.

Quando trabalho as lideranças, este é um ponto que sempre vem à tona: muitos me dizem que tratam sua equipe como amigos. Que são amigos dos seus colaboradores. Eu entendo o que eles querem dizer: que olham para eles com senso humano e se preocupam com a sua vida pessoal também. Muitas vezes é isso que eles querem dizer mesmo, outras vezes são realmente amigos lá fora. Mostro a eles que ter esse laço é muito importante e fideliza o colaborador. Que podem sim ter relacionamento lá fora, mas que tomem cuidado para que isto não interfira na relação, onde a porção líder terá que falar mais forte em todos os momentos. Que traços como paternalismo e protecionismo passem longe da sua posição como líder dentro da empresa.

Não é fácil: eu posso dizer isso, pois já sofri com essa situação e tive que, com muito pesar, tirar as lições dela e me reposicionar. Os profissionais dizem tirar isso de letra, mas não prática não é assim que vemos. Posso dizer que sempre há uma interferência. Eu diria que em quase 90% dos casos.

Portanto, precisamos colocar esse assunto no nosso pacote de investimento em carreira, para garantir a nossa empregabilidade interna (empresa que estamos) e não perdermos oportunidades por causa de comportamentos que possamos demonstrar no envolvimento emocional, desse desequilíbrio na relação de trabalho.

Acho que esse é um assunto que nunca ninguém toca nele: mas ele sempre me tocou e penso ser importante eu levantar essa visão, para ajudar empresas, profissionais, líderes e pessoas que buscam traçar sua trajetória de carreira de forma diferenciada e contribuir para que todos errem menos nesse aspecto, perdendo oportunidades ricas de evolução e crescimento.

No meu negócio atual, a Dra. Empresa, eu trato das doenças organizacionais e considero o que expus aqui nesse texto, parte das doenças que chamo de “Posturas Equivocadas”; “Atitudes Emocionais” e “Baixo Grau de Profissionalismo”. Para se pensar! Deixo essa minha contribuição a todos, com muito respeito!

*Beatriz Resende é consultora, palestrante e conselheira de Carreiras da

Share