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Agrícola

O ciclo de alta dos preços pode ser mais duradouro que os anteriores

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Açúcar: até final de abril 19,2 milhões de t já estavam fixadas

Por: João Henrique de Lima Rissi

Assistimos o setor sucroenergético no Brasil maximizar sua produção de açúcar de 26,5 milhões de toneladas na safra 2019/20 para mais de 38 milhões de toneladas na safra 2020/21, um incremento de mais de 11 milhões de toneladas, resultado da melhora dos preços internacionais iniciada na segunda metade de 2019 e, principalmente, da desvalorização do Real ocorrida em 2020.

No ciclo de alta atual, os preços em um primeiro momento avançaram 49% em 5 meses, e pós pandemia já se aproximaram de R$ 2.000/ton, uma alta de 53% em 6 meses, superando o pico anterior. O setor vem aproveitando essas oportunidades de fixação dos preços para essa e próximas safras, o que permite afirmar que a safra 2021/22 deverá ser novamente açucareira.

Fonte: ICE (Cotações NY11 da tela mais curta), Resumo Estatístico do Pregão B3 (Dólar Futuro), FGV (IGP-M Mensal). Metodologia: Cotações NY11 convertidas para R$ e corrigidas por IGP-M. Elaboração FG/A.

Nesse contexto, surgem algumas questões que podemos nos fazer sobre o futuro dos preços para o produtor brasileiro e para o mercado internacional: qual a duração desse ciclo de alta dos preços do açúcar e qual a melhor postura frente à essas expectativas? Longe de indicar a melhor decisão, proponho uma análise histórica dos últimos ciclos de alta, de forma a identificar possíveis similaridades e diferenças entre eles.

Nos últimos 10 anos, além do ciclo de alta atual de preços, verificamos outros dois, em 2010 e 2015. Nos ciclos anteriores, a valorização foi bastante acelerada no intervalo entre o início e o pico do ciclo. No primeiro, em 2010, em apenas 9 meses os preços saíram de 13,67 para 35,31 cts/lp, uma alta de 158%, equivalente a US$ 477 por tonelada.

No segundo ciclo, em 2015 foram 15 meses para os preços saíram de 10,39 para 23,81 cts/lp, uma alta de 129%, equivalente a US$ 296 por tonelada. Como o incentivo dos preços foi relevante, o reflexo na expansão da produção foi imediato, o que resultou na queda de preços logo após o pico.

Fonte: ICE (Cotações NY11 da tela mais curta). Elaboração FG/A.

Por sua vez, o ciclo atual já ultrapassa 14 meses desde seu início e teve comportamento similar ao observado para os preços em R$, se dividindo em dois momentos: a partir do segundo semestre de 2019 os preços saíram de 10,76  para 15,78 cts/lp, representando uma elevação de 46% em 5 meses, equivalente a USS$ 110 por tonelada. Por sua vez, após a deterioração dos fundamentos com a pandemia, o mercado foi de 9,21 para 15,47 cts/lp em 6 meses, 67%  superior e  equivalente a USS$ 138 por tonelada.

O ciclo atual diverge com relação aos anteriores uma vez que não evidenciamos uma recuperação tão relevante de preços a ponto de incentivar os grandes produtores mundiais a expandir sua produção rapidamente.

Na verdade, o cenário favoreceu países que tiveram maior desvalorização em sua moeda e o real se destacou como aquela como um dos piores desempenhos em 2020. Assim, boa parte dos produtores mundiais não alcançaram um patamar de remuneração relativo aos custos de produção semelhante ao do Brasil.

Adicionalmente, ainda há incertezas para o balanço mundial de açúcar da próxima safra devido ao clima e a produtividade agrícola no Brasil, discussões sobre os subsídios na Índia e, provável quebra de safra na Tailândia e Europa, os quais podem ser combustível para que o atual ciclo de alta se prolongue.

Por fim, como os preços do açúcar nos atuais patamares entre 15 cts/lp e 16 cts/lp, não justificariam estímulos suficientes para maximização da produção a nível mundial e, considerando os fundamentos do mercado hoje, há a possibilidade de que este ciclo seja mais duradouro que os anteriores.

Para os níveis atuais de preços, o Brasil seguiria sendo um dos produtores mais bem remunerado e, um aumento da capacidade de produção brasileira, além dos níveis da safra 2020/21, dependerá de uma expansão possível apenas a médio prazo.

Por:  João Henrique de Lima Rissi, analista da FG/A

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