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Safra de Cana começa lenta e o consumo elevado

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Dados divulgados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) até 1º de junho revelam uma moagem consolidada de 129,65 milhões de t no ciclo 2021/22, valor 10,88% inferior ao constatado no mesmo período da safra passada. A redução é fruto do atraso no início das operações em São Paulo, sendo que o estado já acumula redução de quase 19% na moagem. Em relação ao ATR, a posição acumulada registrou valor de 128,27 kg/t, evolução de 1,24% frete ao mesmo período do ciclo anterior. O mix, por sua vez, está em 45,14% para o açúcar e 54,86% para o etanol, com ligeiro incremento de 0,5% para o biocombustível em relação a 2020/21.

Segundo o CTC com uma amostra próxima a 80 usinas, a produtividade nos canaviais caiu de 87,6 para 79,2 toneladas por hectare (9,63%).

Na região Centro-Sul, as estimativas apontam para uma safra de cana-de-açúcar 5% a 6% menor que a do ciclo passado, com uma moagem de 570 milhões de toneladas. A produção do etanol será inferior, em 11,9%, dos 27,8 bilhões de litros da safra 2020/21 para 24,5 bilhões de litros na atual. O açúcar também deve entregar volume menor, 37,5 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 3,4%. Como consequência, as exportações de açúcar devem cair, alcançando 28,2 milhões de toneladas, 4 milhões de toneladas a menos que a safra 2020/21. Vamos acompanhando!

O volume de chuvas na região Centro-Sul está 44% abaixo da média histórica, considerando desde o começo do ano até maio, segundo a Czarnikow. Com isso, a trading estima uma moagem de cana entre 548 e 558 milhões de toneladas para o ciclo 2021/22, contra 605 milhões da safra anterior; produção de açúcar entre 34,9 e 35,7 milhões de t; e de etanol entre 23,7 e 24,4 bilhões de litros.

De acordo com a publicação da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a cana-de-açúcar é a principal fonte de energia renovável no Brasil, respondendo por 39,5% do segmento e 19,1% da oferta total. O país é referência na utilização de fontes renováveis, que correspondem por 48,4% de sua matriz, enquanto que na média mundial e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) esses valores são de, respectivamente, apenas 13,8% e 11%.

No Brasil, a Copersucar alcançou a marca inédita de 5,2 milhões de CBios escriturados, respondendo por 15,4% do volume total de créditos emitidos pelo RenovaBio desde 2020. As emissões evitadas são equivalentes ao plantio de 36,4 milhões de árvores por 20 anos. Tal resultado é fruto da gestão eficiente dos indicadores ambientais das usinas associadas e o compromisso com a sustentabilidade.

Já a Biosev conseguiu reverter o prejuízo de R$ 1,5 bilhão na temporada passada e fechou o ciclo 2020/21 com lucro líquido de R$ 216,4 milhões. O Ebitda do grupo cresceu 40,1%, chegando a R$ 2,5 bilhões e totalizou moagem de 26,5 milhões de toneladas de cana.

A BP Bunge Bioenergia está lançando a Allia, plataforma de relacionamento e fidelização de clientes com foco em operações de negócios para fornecedores de cana-de-açúcar. Entre os mecanismos contidos no projeto estão a fixação do valor do ATR, repasses de diesel e acesso a créditos.

No aspecto de inovação, a PangeiaBiotech, startup de engenharia genética, em parceria com a Embrapa Agroenergia, pretende lançar, ainda esse ano, a primeira variedade de cana tolerante à seca e resistente à herbicidas e insetos. Segundo os idealizadores, essa será a primeira variedade de cana no mundo a contar com essas três características.

Outra boa notícia veio dos pesquisadores da Embrapa Instrumentação, que extraíram nanocristais de lignocelulose à partir da palha, gerando materiais verdes de maior valor agregado que poderão ter diversos usos, inclusive em embalagens e filmes.

No açúcar, a produção acumulada até 1º de junho na safra 2021/22 alcançou 7,15 milhões de toneladas, queda de 11,12% em comparação ao ciclo anterior, segundo dados da Unica. Já as exportações somaram US$ 861,8 milhões em maio, valor 20% superior àquele constatado no mesmo mês do ano passado. Em termos de volume, foram embarcados 2,7 milhões de t, 4,4% a mais.

O déficit do balanço global de açúcar para o ciclo 2020/21 foi reduzido de 4,78 milhões de t (estimativa de fevereiro) para 3,14 milhões de t, segundo a OIA (Organização Internacional do Açúcar). A produção global foi reestimada em 169 milhões t, contra 169,23 mil t em fevereiro. Por sua vez, o consumo caiu entre as previsões, de 173,82 milhões de t para 172,37 milhões de t. A Czarnikow estima para a safra 21/22 um superávit de 1,5 milhão de t.

A redução nas estimativas de produção tem mexido com os preços do açúcar. A média para o mês de maio do indicador CEPEA/ESALQ registrou R$ 115,08 por saca de 50kg, um crescimento de 6,22% em comparação a abril.

As estimativas da produção de açúcar pelos países do hemisfério norte estão boas, o que ajudou a derrubar um pouco os preços. No fechamento desta coluna estavam em 17,11 cents/libra peso.

De acordo com a Archer Consulting, as vendas antecipadas de açúcar para 2022/23 (vencimentos em abril) atingiram o volume de 4,1 milhões de toneladas. Segundo a consultoria, entre outubro de 2020 e abril de 2021, o preço médio pago pelo açúcar ficou em 13,84 centavos de dólar por libra-peso.

Em termos de consumo, houve um crescimento de 0,2% na safra 2020/21, em comparação com os últimos três ciclos, e o aumento na demanda deve se manter. Segundo a Archer, o consumo mundial de açúcar deve saltar dos atuais 173,8 para 184,5 milhões de toneladas até a safra 2026/27, crescimento de 1% ao ano. O consumo per capita em alguns países, o aumento populacional e a substituição no uso do xarope de milho pelo açúcar são alguns fatores que sustentam essas projeções.

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a compra, pela Copersucar, dos 50% da Cargill na trading Alvean. A empresa, que detém 20% do comércio global de açúcar, passará a ter a Copersucar como única acionista, a partir da conclusão do processo.

No etanol, de acordo com dados consolidados da Unica até 1° de junho, a produção de etanol hidratado totalizou 3,97 bilhões de litros, estando 13,18% abaixo do volume do mesmo período de 2020. Por sua vez, o anidro apresentou crescimento de 11,27% em sua produção, atingindo 1,85 bilhão de litros.

Dessa forma, considerando os dois tipos, foram produzidos 5,82 bilhões de litros, 6,66% a menos que em 2020/21. Já as vendas totais tiveram aumento de 14,88%, chegando a 4,62 bilhões de litros. No mercado doméstico foram vendidos 1,48 bilhão de litros de anidro ( 35,62%) e 2,93 bilhões de hidratado ( 8,17%).

As vendas de etanol acumuladas deste o início da safra foram de 1,48 bilhão de litros ( 35,62%) no anidro e as de etanol hidratado 2,93 bilhões de litros ( 8,17%) no hidratado, para o mercado interno.

O governo indiano antecipou a meta de misturar 20% de etanol à gasolina para o ano de 2023. A revisão da meta em dois anos (antes para 2025) faz parte da política do país de reduzir as suas dependências de importação de petróleo, que somam um dispêndio anual de US$ 55 bilhões.

De acordo com as novas diretrizes, os indianos devem demandar 10 bilhões de litros de etanol para compor a mistura em 2023, favorecendo o mix de cana para o biocombustível. Com mais cana sendo direcionada para o etanol, o país deve abdicar de exportar açúcar para atender a sua demanda interna, deixando ao Brasil a missão de suprir o mercado internacional.

Estima-se que em 2021 já seja misturado 7,5% ou 2,7 bilhões de litros, 56% a mais que em 2020. O USDA acredita que o 10% de mistura será alcançado em 2022.

No intervalo de 1975 a 2020, estima-se que, no Brasil, o etanol evitou a emissão de 709 milhões de t de CO2 equivalentes na atmosfera, substituindo 3,3 bilhões de barris de gasolina, a um valor presente de US$ 607,7 bilhões, que deixaram de ser importados. Com o RenovaBio, outras 620 milhões de t de CO2 equivalentes serão evitadas até 2030.

Os preços dos combustíveis estão mais pesados para os consumidores finais. De acordo com o índice de Preços Ticket Log (IPTL), o preço do etanol avançou 50,4% nos últimos 12 meses, chegando a R$ 4,822 o litro, enquanto que na gasolina o crescimento foi de 44,7% alcançando R$ 5,798 o litro.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em julho na cadeia da cana:

1. Continuar monitorando a seca que assola os canaviais e o impacto na produção de canaaçúcar e etanol;
2. A retomada do consumo de etanol hidratado, com a recuperação da economia. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,54/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 3,59/l. Segundo a Archer, o etanol está com equivalente a 17,25 cents por libra peso.
3. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 74, aumentando 10% no mês. Devemos observar seu comportamento agora em julho, bem como o câmbio para entender os possíveis preços da gasolina;
4. Os reflexos da redução da produção nos preços de açúcar. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 17 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com o crescimento econômico mundial, e a oferta maior deve vir do Brasil mesmo;
5. As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo.

Valor do ATR: com o início da safra 2021/22, os valores do ATR iniciaram muito acima da média do ano passado, como já era esperado, em função da redução da produtividade e da qualidade dos canaviais. Em abril e maio, os valores de ATR para cada um desses meses foram de R$1,014/kg e R$1,056/kg, respectivamente. Com isso, o acumulado ficou em R$1,036/kg. Vale lembrar que entre abril de 2020 e março de 2021, o acumulado era de R$ 0,78/kg, ou seja, o valor atual é 32,8% maior que o do ciclo passado.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

Co-autoria: Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.

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