Conecte-se conosco
 

Edição 204

Tecnologia Agrícola – 100 t/ha é pouco. Com irrigação, precisamos passar de 200 t/ha!

Publicado

em

*Egyno Trento*

*Ricardo Pinto**

No século 19, o cientista alemão Justus von Liebig formulou a “Lei dos Mínimos”. Esta lei aponta que, se um dos elementos essenciais à planta se acha deficiente, seu crescimento será limitado por ele, mesmo que todos os demais elementos estejam presentes em abundância. A água é um nutriente essencial e costuma ser a principal restrição ao ganho de produtividade nos canaviais de sequeiro do Brasil.

A Lei dos Mínimos também nos mostra que, vencida uma restrição, outras aparecerão. Logo, um elemento limitante pode “mascarar” problemas com vários outros elementos que ainda não restringem a produtividade da planta./

/

Figura 1 – Barril ilustrando a Lei dos Mínimos, de Liebig

POTENCIAL DE 472 T/HA

Segundo o pesquisador Paul H. Moore, do Centro de Pesquisa Agrícola do Havaí, a cana-de-açúcar possui uma produtividade máxima teórica de 472 t/ha. Contudo, na região Centro-Sul do Brasil temos alcançado 77,4 t/ha na média das últimas quatro safras, conforme a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar) em relatórios finais das safras 2017/2018, 2016/2017 e 2015/2016. Assim, estamos obtendo apenas e tão somente 16,4% da produtividade agrícola máxima teórica.

É certo que a irrigação é parte da solução para reduzirmos a distância entre as produtividades agrícolas que alcançamos e a máxima teórica da cana. Mas não basta apenas irrigar a cana-de-açúcar se o manejo continua sendo de sequeiro. Isso ajuda, mas pouco.

Aliás, o fato de termos tido nos últimos anos muitas experiências com ganhos acanhados na produtividade de canaviais irrigados, ou seja, de incremento de até 20% de produtividade agrícola, fez com que diversos produtores e consultores no Brasil acreditassem que a cana irrigada não possa ultrapassar a barreira de 100 t/ha de produtividade média. Como exemplo, temos os gráficos (Figura 2) apresentados pelo consultor Udo Rosenfeld no evento da STAB Sul, ocorrido em Ribeirão Preto, SP, em junho de 2018, que reforça esse conceito de que a cana irrigada produz no máximo 100 t/ha se toda a deficiência hídrica da cana for suprida.

CRENÇA ERRADA

Esta crença errônea de que os canaviais irrigados não passam de 20% de ganho na produtividade agrícola em relação ao sequeiro se estabeleceu, na nossa opinião, por sete diferentes motivos:

1) Fazer-se o manejo da cana irrigada da mesma forma que se faz o manejo da cana de sequeiro, somente acrescentando mais água e se esquecendo que novas restrições (Lei dos Mínimos) irão aparecer;

Figura 2 – Gráficos mostrando a produtividade agrícola em função de deficiência hídrica da Usina da Pedra, da Usina Cruz Alta, da região de Lins e da Usina Jalles Machado

/

2) Montar-se projetos de irrigação adotando “lâminas econômicas” menores do que a demanda real da cana-de-açúcar. Esta prática visa a diminuir o investimento total no sistema, mas limita ad aeternum o potencial de crescimento do canavial irrigado;

3) Solicitar-se que os fabricantes de sistemas de irrigação definam o manejo do futuro canavial irrigado, ignorando a necessária execução de um estudo prévio das condições edafoclimáticas locais;

4) Inexistência no mercado de consultores especializados no manejo de Canaviais Irrigados de Altíssima Produtividade (CIAP) para serem contratados. Há diversos consultores especializados em projetos de irrigação e aplicação de vinhaça, mas que desconhecem com profundidade o manejo de CIAP;

5) Presença no Brasil de poucas áreas com CIAP, quer dizer, canaviais com produtividade acima de 200 toneladas de cana por hectare (ou acima de 28 TAH);

6) Falta de água reservada para propiciar a irrigação plena de canaviais nas áreas de usinas e produtores, situação que é resolvida através da execução de Planos Diretores de Irrigação de Canaviais (PDIC);

7) Tendência de se querer copiar pacotes tecnológicos aplicados em projetos bem-sucedidos de CIAP em outras regiões. Cada região tem seu manejo específico de canavial, que respeita principalmente seu clima, solo, épocas de plantio e variedades mais responsivas.

Gráfico 1 – Resultados de produtividades agrícola de viveiros com diversas variedades no Norte de Minas Gerais
/

Gráfico 2 – Resultados de produtividades agrícolas (em t/ha) de viveiros de
CIAP com 15 meses pós-plantio colhidos em diferentes meses e com diferentes variedades de cana no Norte de Minas Gerais

/

Gráfico 3  Resultados de produtividades de ATR (em t/ha) de viveiros de CIAP com 15 meses pós-plantio colhidos em diferentes meses e com diferentes variedades de cana no Norte de Minas Gerais

/

CASOS ACIMA DE 200 T/HA

Mesmo sendo poucas as áreas no Brasil com CIAP, elas existem e confirmam que os canaviais irrigados com altíssima produtividade serão uma forte tendência no país daqui para frente. Afinal, a melhor maneira de se reduzir o custo de produção de cana é aumentar drasticamente sua produtividade agrícola.

Gráfico 4 – Demanda de nitrogênio, fósforo e potássio pela cana soca a partir de seu corte

/

Fonte: Ducos International, citado por Dr. P. Soman no 1º Irrigacana, em 2014

A usina Agrovale, por exemplo, localizada em Juazeiro, BA, conforme consta na matéria “Cana de 3×3 dígitos”, da edição 181 da Revista RPAnews, de julho de 2016, possui produtividade média de 270 t/ha em sua cana planta irrigada por gotejamento, sendo que em 1.000 de seus 17.500 hectares de canaviais, onde se faz irrigação plena, a produtividade média geral é de 300 t/ha.

Em agosto deste ano tivemos a oportunidade de verificar in loco os resultados de CIAP da Usina Boa Vista, do Grupo São Martinho, em Quirinópolis, Goiás. Havia canaviais com produtividade média de 207 t/ha no seu quarto corte (Figura 3).

Outro caso de CIAP foi apresentado pelo prof. Dr. Geoff Inman-Bamber, renomado fisiologista especializado em cana irrigada da Universidade James Cook e ex-pesquisador da CSIRO, na Austrália, no 1º Irrigacana (Seminário de Cana Irrigada do GIFC – Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-açúcar), realizado em 2014.

Dr. Inman-Bamber ilustrou os resultados de viveiros com manejo CIAP localizados no Norte de Minas Gerais, região semiárida. As produtividades agrícolas de primeiro corte de diversas variedades ficaram entre 220 e 270 t/ha (Gráfico 1).

Este caso foi confirmado pelo Eng. Ademario Araujo Filho, responsável técnico pelos canaviais avaliados pelo Dr. Inmar-Bamber. Em sua palestra dada no 2º Irrigacana, em 2015, Ademario apresentou mais resultados de produtividades agrícolas e de produtividades de ATR (Açúcar Total Recuperável) destes viveiros (Gráficos 2 e 3), assim como algumas fotos deles (Figura 4).

/

Figura 4 – Viveiro de CIAP (Canavial Irrigado de Altíssima Produtividade) com 7 meses pós-planti

ESTRATÉGIAS DO CIAP

/

Figura 3 – Canavial irrigado no quarto corte da Usina Boa Vista com produtividade média de 207 t/ha

São muitas as estratégias que envolvem o manejo de um CIAP. Uma delas, e de muita importância, é a fertilização fracionada, haja vista que a demanda por nutrientes da cana varia muito em função de seu estádio (período de crescimento), como demonstra o Gráfico 4.

Nos canaviais de sequeiro, faz-se somente uma adubação por ano, via de regra pouco depois da colheita, adubação esta que deverá ser suficiente para nutrir a cana até seu novo corte. Contudo, como é de conhecimento geral, a disponibilidade destes macronutrientes não é estável, principalmente do nitrogênio.

Outra estratégia fundamental é a definição de teores de macro (N, P, K, Ca, Mg e S) e micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Zn, Mo e Si) por hectare para que se atinjam altíssimas produtividades. Além da correta definição dos teores de macro e micronutrientes, a distribuição destes elementos para a cana-de-açúcar deve respeitar a fenologia da planta em relação à sua época de seu plantio. Por exemplo, as chuvas no período de maior crescimento da cana, se em excesso, poderão afetar negativamente a nutrição do canavial em função de lixiviação, percolação e volatilização dos nutrientes.

No tocante às variedades de cana, costuma haver variabilidade significativa na resposta à irrigação das atuais variedades de cana disponíveis no mercado, às vezes até de 30%, seja na produtividade agrícola, seja na produtividade de ATR, como se comprova nos Gráficos 2 e 3.

A própria disponibilidade de se irrigar a qualquer hora é crucial, como no caso dos primeiros dias após a colheita. Neste momento, o consumo de água é baixo pela cana, mas ela se mostra muito sensível ao déficit hídrico justamente nesta hora.

O dry-off, ou seja, o momento de se diminuir ou cortar a irrigação antes da colheita, vai impactar no teor de sacarose da cana irrigada assim como o maturador usado, a época e o clima no momento da colheita. Vale aqui o lembrete de que “cana irrigada dá menos açúcar porque é aguada” é fakenews!

Em suma, são muitas as estratégias, táticas e até dicas que garantem que um canavial irrigado se torne um Canavial Irrigado de Altíssima Produtividade (CIAP).

Justamente por isso a RPA Consultoria desenvolveu ao longo dos últimos anos uma metodologia de trabalho específica para planejar, implantar e manejar um CIAP. Os resultados já alcançados comprovam seu sucesso. Procure-nos se quiser implantar seu CIAP.

*Egyno Trento é engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia, consultor e diretor da RPA Consultoria

**Ricardo Pinto é engenheiro agrícola, administrador de empresas, mestre em Agronomia, consultor e CEO da RPA Consultoria

/
Cadastre-se e receba nossa newsletter
Continue Reading